A imagem do político da classe média, novo e descomprometido, começa a criar um conceito inovador. Os candidatos que apostam na renovação daqueles que integram a máquina há décadas e que se eternizam nos cargos são, agora, os preferidos do eleitorado europeu. Os partidos perderam, em geral, atratividade exatamente porque continuam a apostar nas mesmas caras que, muitas vezes, estão coladas a funções governativas mal sucedidas que os fragilizam irremediavelmente. O segredo está em investir nos temas esquecidos quer pela direita quer pela esquerda e dar-lhes um enfoque moderno e atual. Também o discurso tem de passar por ser cada vez mais transversal e, sobretudo, mimético aos jovens.

A disfunção do sistema político tem sido, aliás, aproveitada por alguns candidatos como bandeira de ação. A disponibilidade, o contacto direto com o cidadão comum e a recetividade às solicitações da população têm sido a mola do sucesso dos políticos com este registo. As soluções simplórias para os problemas já não são o truque para o êxito e as agendas neoliberais ou marxistas-leninistas caem, gradualmente, no descrédito. Também os políticos com discursos restritos ao pensamento académico, ricos enquanto fontes de conhecimento mas destituídos de eficácia prática não estão a ter aceitação nas urnas. Bauman culpou os políticos atuais de se aproveitarem do medo dos mais desfavorecidos, prometendo-lhes o impossível para atingirem objetivos eleitoralistas, e de olharem com desprezo a sociedade atual, cada vez mais fluida e descomprometida com ideologias.

O político atual não se pode prender a dogmas, tem de ser menos ideológico e mais pragmático e, sobretudo, ser prospetivo na visão que tem da sociedade. Ao confirmar os mais puros anseios do cidadão no seu programa eleitoral, de forma genuína e transparente, sem a ambição do voto, o político dos novos tempos ganha a dianteira daqueles que engajados no sistema se movem pelo interesse dos lugares. A “revolução democrática” a que Macron apelou em França durante a sua campanha eleitoral, garantiu-lhe o endosso de importantes apoios e tem sido plagiada por outras correntes políticas como forma de romper com o establishment e criar um novo rumo.

No despertar de uma consciência global em que a velha maneira de fazer política se esgotou, eis que surge um novo perfil de candidato, avesso a um discurso imediatista, sem preconceitos ideológicos e determinado no fim a alcançar. Esperemos, pois, que este modelo prospere e que a “revolução democrática” chegue depressa a Portugal.