(Sócrates tem um manifesto afecto académico por Domingos. Se a alegada licenciatura contou com um exame a um Domingo, nada como usar um outro (Domingos) para fazer o mestrado. Esforçar-se e tentar fazer ele próprio é que sempre pareceu fora de questão. Para que conste, Domingos Farinha foi meu contemporâneo na Faculdade de Direito de Lisboa. Mais novo que eu, conheci-o como uma das mentes mais brilhantes da licenciatura.

Não retiro o elogio, sendo que estou consciente que o mesmo torna mais grave a conduta. Até hoje, e ressalvada a presunção de inocência, não consigo perceber o que lhe passou pela cabeça para se meter numa desventura destas. Sei que dinheiro nem sempre é bom conselheiro. Mesmo que a Justiça o absolva, a ética nunca o fará. Ainda que seja muitas vezes convidado para integrar júris de acesso ao curso para juízes. Se calhar, também tendo presente isso. “Shame on you all…”)

As notícias sobre o que de escandaloso se passa, há muito mais de uma década, no sector bancário não cessam. No meio desta vertigem informativa, esbarrei numa fabulosa notícia segundo a qual o Banco de Portugal tenta, há dois anos, notificar Tomás Correia, sem aparentar conseguir fazê-lo. O mesmo Banco de Portugal que nos afiança, ano após anos, ora ter tudo controlado e não existir qualquer problema na supervisão, ora não ter feito mais por falta de lei habilitante, avança agora que, nalguns casos, nem consegue assegurar que os membros dos conselhos de administração recebam cartas.

Recuperando as suas atribuições, compete ao Banco de Portugal, para além de averiguar a idoneidade dos membros dos órgãos sociais, aferir da respectiva disponibilidade. Ora, para além do resto, uma alminha que, de forma ostensiva, não recebe cartas que lhe são dirigidas por uma entidade que o deve supervisionar está devidamente apresentada. Como, aliás, sempre esteve. Só quem não sabe como decorriam as Assembleias Gerais do Montepio Geral e como eram “cacicados” os próprios trabalhadores para votar em conformidade com o que lhes era determinado é que se pode, ainda, surpreender.

No meio de toda esta história, há algo que é conhecido: o final. Com o devido alarde noticioso, daqui a uns tempos, após um anúncio do Banco de Portugal para que confiemos, o Montepio Geral cairá. A nossas expensas, será transformado noutra realidade qualquer, com milhares de trabalhadores atirados para o desemprego, enquanto os órgãos de supervisão se declaram, uma vez mais, desprovidos de competências. Entretanto, Tomás Correia gozará a sua reforma, podendo ir jogar golf a clubes frequentados por outros administradores reformados.

É o nosso triste fado. Seria, até, risível se a factura não fosse trágica.

A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.