Esta semana escrevo de Atenas, onde decorreu o congresso anual da Alliance of Liberals and Democrats for Europe e onde a questão dos refugiados foi um dos temas em destaque. Os populismos, à esquerda e à direita, advêm da ausência de resposta aos problemas das pessoas e dos países. A Itália e a Grécia são bons exemplos de como a questão condicionou a agenda, os votos e a ascensão de alguns partidos.

Uma deputada do partido italiano Più Europa confidenciou-me que no seu país o consumo de peixe caiu drasticamente. O mar passou a ser sinónimo de cemitério. O Mediterrâneo é a rota mais mortífera do mundo, só em 2019 mais de mil pessoas morreram ao tentar alcançar a costa europeia. Nos últimos quatro anos, morreram pelo menos 15 mil pessoas, segundo a Organização Internacional para as Migrações. Este ano, o destino principal foi a Grécia: mais de metade dos 78 mil refugiados e migrantes. As ilhas gregas ultrapassaram outros locais que vinham a ter mais chegadas em Espanha, Itália, Malta ou Chipre.

Recentemente, após o registo de um incêndio e de tumultos no campo de refugiados Moria, na ilha grega de Lesbos, o executivo do primeiro-ministro grego Kyriakos Mitsotakis anunciou que pretende reenviar cerca de dez mil migrantes para a Turquia até ao final de 2020. Moria, um dos maiores campos de refugiados na Europa, tem capacidade para três mil pessoas, mas actualmente alberga cerca de 13 mil.

Na quinta-feira, decorreu no plenário em Estrasburgo a votação sobre a criação de mecanismos europeus de protecção de vidas no Mediterrâneo. Foi chumbada por dois votos. O que a eurodeputada do Bloco de Esquerda, Marisa Matias, não consegue entender, segundo um texto publicado na imprensa, é que esta não é uma luta entre a esquerda e a direita, é uma catástrofe humanitária que atinge severamente alguns países europeus. Que Portugal tenha sido um dos países mais ineficazes a contribuir para a solução é um detalhe que não convém mencionar.

Em Maio, um relatório de uma auditoria do Tribunal de Contas ao Programa Nacional do Fundo para o Asilo, Migração e Integração (FAMI), refere que a Comissão Europeia ameaçou retirar o financiamento ao programa a Portugal – uma perda de 16,7 milhões de euros. O motivo? Como noutras áreas, a taxa de execução é de apenas 25% do montante.

Os gabinetes do ministro da Administração Interna, da ministra da Presidência e da Modernização Administrativa, esclareceram em comunicado que o início da implementação do actual Quadro Financeiro sofreu um atraso de aproximadamente dois anos.

A título de exemplo, no âmbito do Programa Voluntário de Reinstalação do ACNUR, Portugal assumiu o compromisso de reinstalar 1.010 refugiados. Chegaram apenas ao país 49 refugiados  da Turquia e 132 do Egipto. A ineficácia do governo português deveria preocupar mais a esquerda, mas os populistas são sempre os outros.

A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.