1. Parece-nos que, nos últimos dias, a oposição, designadamente o PSD, mas também o Presidente da República, clamaram por um regresso do ex-governante Pedro Passos Coelho (PPC) sob várias formas. Marcelo Rebelo de Sousa – acossado pelo impacto negativo que tiveram as suas declarações sobre o número de casos de pedofilia na igreja – protagonizou um ato de comunicação política típico do mais vulgar spin doctor: quando se tem um problema cria-se uma tempestade ao lado que atinja outros, e foi o que o que fez o nosso Presidente da República.

Já Luís Montenegro, o líder do PSD – que anda há semanas numa espécie de tournée pelo país, de cujos resultados não se conhece uma análise ou interesse para a Nação –, acabou por morder o isco de Marcelo Rebelo de Sousa e também veio comentar o papel que o ex-PM ainda pode ter na sociedade portuguesa, e em particular no nosso sistema político.

Mas a verdade é que nem Marcelo, nem Montenegro estão sintonizados com Passos Coelho e as suas reais intenções sobre o seu futuro político e sobre a sua pessoa. O antigo líder do PSD está a refazer a vida, tem uma posição na academia semelhante à de um professor catedrático, dá aulas em duas universidades, uma privada e outra pública, e está muito afastado da política partidária. Na realidade, ninguém sabe o que Passos quer ou deixa de querer.

Mas uma certeza temos: PPC tem capacidade para voltar a assumir a liderança da oposição, esvaziando o crescimento e a normalização do Chega, colocando no seu bolso a Iniciativa Liberal e potenciando o catapultar de um PSD mais forte do que o atual, ou do que o das anteriores lideranças, sem esquecer as pontes mais do que naturais que ainda faz com o antigo CDS.

Seria mais lógico que Luís Montenegro trabalhasse no dia a dia da oposição ao Governo de António Costa, obviamente com uma ligação ao país, mas a partir de Lisboa, que é onde deve estar o futuro candidato a primeiro-ministro. Montenegro parece não conseguir descolar e num dia está a corrigir os números de Medina, no outro a falar de reformas sem apresentar planos para chegar às mesmas, e sem se vislumbrar nem equipa nem projeto para o país. E perdeu, inclusive, a “bandeira” das contas certas e do défice para Medina.

2. Na Europa temos de nos preparar para o pior. A crise da energia e, em particular, a crise do gás, ameaça todos os países ocidentais não produtores. Portugal, independentemente de não depender do gás russo mas sim da Nigéria, está a “levar por tabela” pois vai receber menos metros cúbicos de gás do que o contratado.

A Nigéria está a aproveitar uma catástrofe natural para justificar cortes no fornecimento contratualizado, embora todos os fornecedores estejam a pagar cláusulas de indemnização para revender a quem lhes dá mais. O resultado é a escalada de preços que partindo da energia se estende a todas as produções industriais e agroindustriais.

As repercussões da guerra na Ucrânia estão a chegar a toda a sociedade europeia com distúrbios e exigências salariais nos países centrais do euro. O inverno que se aproxima não será fácil em França, Alemanha, Itália ou Reino Unido e estes são os nossos maiores parceiros comerciais.

Do nosso lado esperamos um 2023 com a economia estagnada, na melhor das hipóteses, e o OE2023 vai responder a algumas necessidades imediatas de empresas e de famílias com rendimentos mínimos.