O Orçamento do Estado está pronto e quase embalado, falta apenas a provável e evidente confirmação de que o PS está fora de jogo. Talvez possa surgir um inexplicável movimento de última hora, até porque no PS não há propriamente unanimidade sobre o tema. A estratégia de Pedro Nuno Santos é dele e de um grupo restrito de conselheiros, não é propriamente o resultado de um caminho colectivo dos socialistas após longo e intenso debate interno. As lideranças políticas são assim, o PS não é excepção, logo não é motivo para surpresa ou crítica que as coisas tenham acontecido desta maneira.

O facto que interessa é que Governo e PS não chegaram a acordo nem ficaram próximo de o atingir. Luís Montenegro e o ministro das Finanças ainda ensaiaram uma tentativa de aproximação através da remodelação do IRS jovem, que passou a decalcar o projecto do governo de António Costa, mas também através da revisão do corte do IRC, que se tornou menos ambicioso já este ano (passa para metade) e durante a legislatura. A isto, o Governo juntou mais apoios à habitação e ainda um reforço das pensões e a revisão das tributações autónomas.

Não é uma lista pequena, não é uma aproximação aparente, não é fogo de vista para inglês ver. É uma proposta com substância e alcance, que revela pelo menos alguma vontade de compromisso, mas pelos vistos insuficiente para mudar o rumo da vontade de Pedro Nuno Santos.

E agora? Agora resta o Chega, amarrado aos 50 deputados e ao risco de os perder caso haja eleições antecipadas. O receio não é infundado. O Governo tem sabido o jogar no campo do Chega, designadamente na questão da corrupção, ao escolher como Procurador-Geral da República alguém com provas dadas e um perfil de qualidade inquestionável. Esta não foi uma escolha qualquer. Nomear um PGR com um perfil assim comporta uma certa dose de risco, já que indispõe — pode indispor — alguns sectores, digamos, que apreciariam ter um PGR menos musculado e conhecedor.

Portanto, sobra o Chega, e então? Não virá mal ao mundo se o PSD precisar do apoio do Chega para provar o OE2025. Luís Montenegro não pisa nenhuma linha vermelha. Estará simplesmente a gerir uma situação de extrema dificuldade sem se comprometer. A não ser que haja algum arranjo que não conhecemos e que comprometa de alguma forma esta realidade. É o que veremos.