Para aquele grupinho de vedetas ungidas pela comunicação social que se juntou um dia no hoje risível “Compromisso Portugal”, deve doer como uma forte chibatada cada aparição pública de Rui Nabeiro e cada mensagem e texto empático e carinhoso que os portugueses lhe devotam.

Dessas elites medíocres e incultas que marcaram nesse grupinho o nosso país, lá pelos idos de 2004, saíram arguidos em processos com gravíssimas acusações, gente que vendeu na primeira oportunidade as suas empresas a espanhóis ou a quem pagava mais enquanto batiam hipocritamente no peito para falar de patriotismo, e outros que jazem na Quinta Patiño sem qualquer vergonha de pedir perdões fiscais de muitos milhões de euros enquanto a comunidade tenta sobreviver aos efeitos da pandemia, sem esquecer as condecorações e comendas que quase todas estas criaturas receberam num rol caricatural tão habitual naquelas cerimónias do 10 de Junho.

Em maio de 2017, no ECO, escrevi um artigo que se intitulava “O que os empresariozinhos deviam aprender com Rui Nabeiro”, e ali explanava: “Ainda há muitos empresários saloios em Portugal que acham que impressionam os papalvos porque ganham milhões e compram a frota toda de carros de luxo disponíveis. Isso é um desastre de ‘Public Relations’ e revela um desconhecimento fatal sobre a natureza humana. O dinheiro é bom, não há nenhum burro que seja inimigo dele. O que mais impressiona não é o volume de notas, é o que se faz com elas”.

Ora, Rui Nabeiro não é apenas um grande empresário pelo dinheiro que ganhou ou pela força da marca que construiu que será o seu legado eterno, mas sim pelo apego à terra que ajudou a desenvolver, aos trabalhadores a quem proporciona um salário acima da média nacional e por nunca ter sucumbido às delícias de vender a empresa ou passá-la para outra geografia onde os custos de produção seriam menores e os lucros maiores.

E sedimentou o seu império onde ainda é mais difícil, no interior de Portugal. Depois, a sua humildade, o seu sorriso, a sua sabedoria de experiência vivida que nada tem a ver com os pavões da nata empresarial portuguesa desse triste “Compromisso Portugal” que deviam fazer uma vénia sempre que tomam um café Delta.

Carlos Drummond de Andrade dizia: “o cofre de um banco contém apenas dinheiro. Sairá frustrado quem pensar que nele encontrará riqueza”. Para quê ser milionário se os cidadãos os condenam e os desprezam? Esta é a maior lição com que todos os dias Rui Nabeiro chicoteia quem é, no fundo, um mau empresário. É quase impossível ser unânime e ter o reconhecimento e admiração dos seus compatriotas e este grande português conseguiu este feito. Talvez porque “os homens não se vendem, criam-se” como disse na entrevista que celebrou os seus 90 anos. Muito obrigado por tudo e continue muitos anos assim, inspirador.