Há em Portugal uma visão do comboio que acusa um atraso em termos de desenvolvimento social. Para nós, o comboio significa um transporte de segunda escolha, que se escolhe por questões eminentemente de custos. Os estudantes usam o comboio enquanto não podem usar o automóvel, os trabalhadores, em geral, abandonam o comboio se progridem profissionalmente ao ponto de ter um carro de empresa, ou suportar financeiramente o uso de carro próprio, os idosos conformam-se com o seu uso por via dos descontos e limitações que possam advir da idade.

Infelizmente, pouca gente tem a visão útil e racional do comboio. O facto de ser muito menos poluente, infinitamente menos stressante, partir e chegar ao centro das cidades de modo conveniente, de ser rápido e confortável e infinitamente mais seguro que o automóvel, não consegue destronar o símbolo social do automóvel em países com uma história curta ou acidentada de evolução socioeconómica.

Prevalece entre nós a imagem do comboio indiano apinhado de gente sobre a confortável travessia ferroviária entre Manhattan e os subúrbios, com tudo o que isso implica em termos de mobilidade, ambiente e segurança. Acontece paradoxalmente, que os comboios portugueses estavam ao nível dos melhores americanos, e nem nos piores tempos se aproximaram dos indianos.

Ao mesmo tempo, constatamos que o volume de vendas de automóveis não pára de subir em facturação, maioritariamente à custa da venda de carros cada vez mais luxuosos, potentes, desportivos e consequentemente caros.

Em termos muito frios, as classes sociais com mais poder económico compram cada vez mais automóveis e mais caros, com preços que superam muitas vezes o valor das casas que servem de habitação à maioria dos que compõem as classes mais desfavorecidas economicamente. Por seu lado, as classes mais desfavorecidas estão cada vez mais “condenadas” ao comboio, não sendo, na esmagadora maioria dos casos, esta opção feita pelas boas razões acima enunciadas, mas estritamente por condicionalismo económico.

Com cada vez mais luxo, de um lado, e limitações visíveis, do outro, este é um excelente barómetro para aferir da diferença a que estão a evoluir as diferentes classes no quadro do Governo socialista de coligação com as forças de extrema-esquerda. Há um claro reforço da riqueza nos seus detentores tradicionais, e uma manutenção do sacrifício nos de sempre, com claro afunilamento das possibilidades de mobilidade social.

Na linguagem fácil da esquerda, os ricos estão cada vez mais ricos, e os pobres cada vez mais pobres! Curiosamente, a esquerda esqueceu o sentido da frase, mandou recolher os sindicatos e outras forças da “rua”, guardou os panfletos num armário bem fechado,  acomodou-se na partilha do poder e dos poderes, em suma, usou e esqueceu os que mais precisam. E é precisamente aqui que entra o comboio. O comboio é o meio único para os que mais precisam. Se quisermos usar a antiga terminologia da esquerda, é o transporte dos pobres, dos explorados, dos oprimidos economicamente.

Pois, o comboio tornou-se na grande metáfora que ilustra o poder actual do socialismo e da extrema-esquerda. O comboio, que era bom até há pouco tempo, é liquidado, votado ao desinvestimento e ao abandono. A CP transforma-se em símbolo de decadência, mau funcionamento e péssima qualidade. Com isto, o Governo abandona a encenação fajuta de uma modernidade ligada ao ambiente, à qualidade de vida nas cidades e à mobilidade sustentável, condenando os mais desfavorecidos a menos mobilidade, menos conforto, menos opções, mais precariedade; enquanto cada vez mais bólides aceleram nas nossas estradas…

Para cúmulo, quando o PS decide ir em romaria ferroviária, manda parar e esperar os comboios do Povo. Correndo o risco de me repetir, nem de encomenda se encontra melhor metáfora.

John McCain, o Homem

Não sendo um saudosista, vivo na esperança de podermos voltar a ver a presidência da América disputada por homens da fibra moral e da qualidade humana de Barack Obama e John McCain. Ao presidente do país mais poderoso do mundo, farol de direitos, deveres, liberdades e garantias, exige-se um conjunto de qualidades de excepção. A moralidade, a inteligência, a coragem, a dignidade, são imprescindíveis a qualquer bom candidato ao cargo.

John McCain protagonizou a última campanha com candidatos dignos do cargo a que se propunham. Perdeu com enorme dignidade, reflectida num discurso que honra o melhor que a América tem para dar ao mundo. É hoje lembrado pela sua coragem, pelo serviço à pátria sob diferentes formas, pelo primado dos princípios, pela humildade e pela recusa dos dogmatismos em favor da justiça. Ninguém vive para sempre neste mundo, mas que a memória de McCain possa perdurar e inspirar na essência lideranças futuras.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.