A recente Guerra de Informação promovida por Donald Trump em redor do coronavírus visa desviar a atenção dos eleitores americanos do modo incompetente como geriu a resposta à pandemia, evitando assim que esse desempenho possa afetar negativamente sua corrida à reeleição em 2020. A China e a Organização Mundial de Saúde (OMS) foram os bodes expiatórios da campanha.

Sendo um dos países mais tardiamente afetado, os EUA tiveram mais tempo para se preparar. Tinham uma vantagem que não utilizaram. A arrogância de Trump estendeu-se a outros dirigentes europeus, agora numa situação difícil, como é o caso do presidente Macron. Havia, pois, que desviar a atenção das opiniões públicas da negligência e falta de preparação. Não estamos esquecidos das reiteradas dúvidas levantadas por Trump sobre a gravidade do coronavírus, nem de ter desconsiderado durante semanas a importância do problema, quando não restavam quaisquer dúvidas sobre a sua dimensão. Dúvidas essas que parecem persistir nos dias de hoje quando incentiva protestos contra governadores que defendem o “ficar em casa”.

A China foi insistentemente acusada de encobrir do mundo a dimensão do problema. Não dispondo de fontes de informação fidedignas é-me difícil pronunciar sobre o assunto. Imagino não ser fácil identificar um problema desta grandeza de um dia para o outro. Há, contudo, factos incontornáveis e indesmentíveis a ter em conta, entre outros: em 30 de dezembro de 2019 foi dado o alerta global, em 8 de janeiro o vírus foi sequenciado, e no dia 12 de janeiro surgiram as primeiras publicações científicas sobre o vírus. O que fez Trump e os dirigentes europeus? Desvalorizaram.

Trump acusou pateticamente a OMS de ajudar a China no encobrimento da epidemia, e verberou o seu diretor-geral com dislates. A China tinha-se infiltrado na OMS. Quem está familiarizado com o funcionamento de organizações internacionais tem a noção dos disparates que, entretanto, proliferaram. Em janeiro, algumas semanas após a China reportar os primeiros casos, a OMS tomou as primeiras medidas para informar o público.

O comportamento de Macron, Trump e Johnson lembra-nos o provérbio popular do “diz o roto ao nu”. É inqualificável ouvi-los criticar a forma como a China geriu a pandemia, sem se questionarem sobre a mediocridade do seu próprio comportamento. Ainda há poucas semanas Johnson defendia a imunidade coletiva. Seria mais útil deixarem-se de acusações e preocuparem-se com soluções, quando se torna cada vez mais evidente a necessidade de uma resposta global e coordenada, que permita sair das crises – sanitária e económica – causadas pelo coronavírus. Infelizmente, as respostas já encontradas tanto ao nível do G7 como do G20 são tímidas. Não podemos, no entanto, deixar de aplaudir as medidas incluídas no plano de ação acordado na reunião virtual do G20, de 15 de abril.

Como deixaram claro os dirigentes do G7, na sua última reunião virtual, é importante apoiar a OMS. Está na hora de baixar o volume da Guerra de Informação e abandonar argumentos inconsequentes. A situação não vai melhorar com exercícios de “Comunicação Estratégica”. Em vez de suspender o financiamento da OMS no meio de uma crise que já infetou dois milhões de pessoas e causou 140 mil mortos, talvez fizesse mais sentido ajudá-la a liderar a resposta global.