Em 2008, o equilíbrio económico mundial apresentava uma configuração muito diferente. A União Europeia liderava com um PIB em paridade de poder de compra (PPC) de 13,3 triliões de euros, seguida de perto pelos Estados Unidos, com 12,8 triliões de euros, enquanto a China, ainda em processo de transformação, somava 6,4 triliões de euros – menos da metade do tamanho europeu.

Dezasseis anos depois, em 2024, o panorama global inverteu-se por completo. A China alcançou 31,9 triliões de euros, assumindo a dianteira como a maior economia mundial em PPC. Os Estados Unidos, com 25,8 triliões, mantêm posição robusta, enquanto a União Europeia, com 24,2 triliões de euros, perdeu a vitalidade e peso relativo. Um continente que por séculos simbolizou modernidade e inovação tornou-se, gradualmente, refém de sua própria hesitação.

Esse contraste revela uma crise de dinamismo. A Europa, outrora epicentro da modernidade e motor da prosperidade global, tornou-se prisioneira de suas próprias hesitações. Três causas explicam essa paralisia. Primeiro, a guerra na Ucrânia, que encareceu a energia, alimentou a inflação e corroeu a competitividade industrial, expondo fragilidades estruturais de longo prazo. Segundo, a dependência quase automática em relação a Washington, que reduziu a autonomia estratégica e impôs políticas muitas vezes contrárias aos interesses do continente. Terceiro, a rigidez institucional e produtiva, marcada por custos elevados, lentidão na inovação e incapacidade de acelerar ganhos de produtividade.

Importa sublinhar que essa estagnação não decorre da ascensão chinesa. Os Estados Unidos também enfrentaram a emergência de Pequim, mas reagiram expandindo sua base tecnológica e modernizando cadeias produtivas. A China, por sua vez, apostou em infraestrutura, inovação e comércio internacional, colhendo os frutos de uma visão estratégica de longo prazo. A paralisia europeia é endógena: o continente perdeu a coragem de reinventar-se.

O futuro aponta para uma ordem multipolar, em que o poder se distribui entre diversos centros de influência. Esperar-se-ia que a Europa participasse ativamente desse novo concerto internacional, equilibrando forças e redefinindo parâmetros de cooperação. No entanto, o continente oscila entre duas vias. De um lado, a persistência em submeter-se a uma postura predatória — guiada pela defesa de interesses exclusivos e submissão à lógica hegemônica. De outro, a escolha por uma via cooperativa — fundada na responsabilidade compartilhada, no multilateralismo renovado e em parcerias genuinamente ganha-ganha. A decisão europeia será, antes de tudo, civilizacional.

Como avançar? Três passos são inadiáveis. Primeiro, recuperar a autonomia estratégica, para que o continente deixe de ser um apêndice das decisões de Washington. Segundo, revitalizar a base produtiva, com políticas industriais que combinem inovação, sustentabilidade e competitividade. Terceiro, reconstruir a coesão interna, fortalecendo uma visão de futuro partilhada, sem a qual não há projeto civilizacional viável. A melhoria na qualidade da liderança política é fundamental

Confúcio advertiu: “O homem que comete um erro e não o corrige está cometendo um erro ainda maior.” Este é o dilema europeu:  insiste nos mesmos erros, esperando resultados diferentes. A história concedeu ao continente um legado incomparável, mas o futuro exige coragem. A história não espera pelos indecisos. Ou o continente se reinventa — ou assina sua própria certidão de irrelevância.