1. Aceitei estar presente na 3ª Convenção do Movimento Europa e Liberdade (MEL), como moderador de um painel [declaração de interesses] menos político e mais social [“As políticas públicas para libertar o cidadão”].

Pude, assim, assistir ao debate que aconteceu no auditório do Centro de Congressos de Lisboa e, paralelamente, ler/ouvir aquilo que dele resultou na comunicação social. Penso que, na generalidade, a cobertura foi equilibrada e correspondeu ao que lá se passou com uma diferença óbvia: os jornalistas noticiaram, a maioria substantivamente; os comentadores comentaram, de acordo com aquilo que são as suas ideias e também as suas agendas.

Cada um fez o seu trabalho. Uns informando. Os outros divergindo em análises, algumas das  quais intelectualmente sérias, mesmo quando correspondendo a pensamento diferente; e outras, como habitualmente, sendo pretexto para marcar terreno político e partidário. Houve disso, tanto à esquerda como à direita. Nada de novo.

2. Primeiro ponto: o MEL, presidido pelo economista Jorge Marrão, que conheço há muitos anos, é um movimento não socialista, de gente oriunda das mais variadas direitas, que tem efetivas preocupações de participação cívica. Como tem a SEDES. Como têm outros, infelizmente poucos, movimentos da sociedade portuguesa.

Não deveria importar se são de direita ou de esquerda. Se têm propósitos de defesa da Vida ou de discussão da Justiça. Se querem debater a Escola ou a Saúde. Se são partidários (como foram os Estados Gerais do PS de Guterres) ou se são ideológicos (característica dos conclaves do MEL). São poucos, repito.

Aquilo que deveria importar, realmente, é que o debate se faça, os cidadãos participem e reúnam mais informação para poderem pensar e escolher.

Desse ponto de vista, o MEL voltou a ter êxito na iniciativa. Reuniu, de novo, um variado painel de conferencistas e, para além disso, pela primeira vez conseguiu exorcizar os fantasmas que não lhe permitiram, nas edições anteriores, congregar toda(s) a(s) direita(s). Rui Rio, até este ano, torcera sempre o nariz, desconfiado, aos objetivos do movimento, no qual acreditava descortinar facções por ele derrotadas no PSD.

3. Significa isso que a convenção do MEL foi, apenas, um debate de ideias? Não, não foi.

Na grande sala da antiga FIL houve quatro comícios (de Cotrim Figueiredo, Francisco Rodrigues dos Santos, André Ventura e, finalmente, Rui Rio) a intervalar conversas muito interessantes e sérias – as dos dez painéis.

Alguns desses diálogos (que podem ser vistos em mel.org.pt) foram, até, protagonizados por pessoas insuspeitas de serem de direita, como Sérgio Sousa Pinto, cuja intervenção fez a sala tributar-lhe várias vezes o aplauso devido à inteligência e ao humor cáustico, por vezes cínico  q.b..

E da direita vieram revelações pela frontalidade, como a do professor Nuno Palma, que leciona economia em Manchester e que através do eco daquilo que teria dito (e não disse!), foi logo julgado pelo socialista Pedro Marques no Twitter (parabéns ao “Polígrafo” por ter desfeito a acusação torpe de pseudo elogio à ditadura, que não houve).

4. É evidente que o MEL foi uma boa plataforma para os líderes dos partidos terem o seu palco. Faz parte. Esse também era um dos objetivos dos organizadores, seja ou não confessado. Mas reduzir a convenção aos quatro comícios ou a imagem do que lá aconteceu aos delírios das guardas pretorianas que policiam as redes sociais ao serviço do sistema instalado será sempre muito poucochinho.