Sempre que chegam as eleições para o PE, é um choradinho que arrepia as almas. Não se debate a Europa. A Eu… ro… pa! A visão para a Europa. O que vai ser da Europa… “Por favor digam-nos já o que querem sobre a Europa”(1). Não deixem para “após a contagem dos votos”. Diz-nos o inefável João Duque. O grande distribuidor de Honoris Causa a tudo quanto foi/é gestor de excelência, de Salgado a Bava, passando pelo Mexia (o Berardo parece que se safou), está muito preocupado com o debate eleitoral.

Digam lá: tudo na mesma, como manda a Alemanha, ou ao lado dos “extremistas”, a desintegrar “a coesão económica financeira e social da mesma”? Querem o “reforço da economia de mercado” ou a “diabolização dos mercados, como transpiram os extremistas”?

Coitados. Têm que pedir explicações ao Pacheco Pereira. Há uns pormenores, mas onde estão as diferenças substanciais, entre os programas europeus de PS, PSD e CDS? Como diferenças, se estão de acordo com o federalismo (o Melo diz que não, mas como pode inventar tal quem assume o máximo de federalismo que é o monetário, da zona euro?).

Como, se estão de acordo, todos, com o militarismo, com o exército europeu e o aumento astronómico para despesas militares da União Europeia à custa dos fundos de coesão?! Como, se são todos adeptos do euro? Do Pacto de Estabilidade ao Tratado Orçamental, do Semestre Europeu à Governação Económica. Como pode ser diferente o que é igual? Peninhas sempre se podem colocar no chapéu, mas… para disfarçar.

E se estão de acordo no fundamental sobre a União Europeia, que baptizam de Europa, como podem inventar um debate de diferenças? De confronto eleitoral? Assim sendo, têm de se virar para os trocos. A cara e a idade dos deputados. Os rankings. Quem apanha mais plástico nas praias? As suas cumplicidades com os interesses dos grupos nacionais do PE, maioritários dos seus grupos parlamentares. Então o PSD e o CDS, que estão no mesmo grupo, onde convivem alegremente com várias extremas-direitas, muito têm que inventar. Mas o mais que conseguem é uma cacofonia concertante europeia.

Deve ser por isso que algumas estações televisivas, preocupadas com a iliteracia comunitária dos portugueses, arranjam uns explicadores para depois dos debates explicarem aos telespectadores o que se passou. Quem ganhou? Quem perdeu? Quem engrolou? Sim. O povo tem dificuldades e uns explicadores sem preconceitos político-ideológicos nem contaminações partidárias, explicam os trejeitos, as dicções, os sorrisos, as caras fechadas, e tudo fica claríssimo para os eleitores.

Mas atenção: não desiludam o Prof. João Duque. Não façam das eleições europeias “uma avaliação do Governo”. Mesmo se ele se contradiz a si próprio, e em todos os itens do seu “roteiro para a economia”, que aconselha aos candidatos, sinalize como termo de comparação o que cá, diz que se faz. Notável.

Esclareçam Srs. candidatos: “investimento público (…) com base em critérios de preconceito político como por cá se vem fazendo em relação às PPP no sector da saúde ou na educação”, sim ou não? Mais despesa na UE para o consumo “(como faz por cá o governo)”, sim ou não? Mais «impostos europeus sobre os cidadãos (como se faz em Portugal)”, sim ou não? Como se vê nos sublinhados, questões que nada têm a ver com o que por cá se passa. O melhor leva um honoris causa!

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.

 

(1) Todas as citações são do texto «Afinal o que querem?», de João Duque, no Expresso, 27ABR19