Sinais mais recentes de resultados eleitorais não podem deixar de nos merecer uma reflexão à porta de um ano que se anuncia complexo e tumultuoso perante novos fenómenos políticos e novos movimentos sociais, de génese não tradicional.
A história mostra-nos ciclos migratórios de origem não explicável, onde repentinamente movimentos populacionais não controláveis se deslocam em busca de melhores condições de vida.
Na maioria dos casos, estes fluxos geram grupos imensos de refugiados, alguns alegadamente de natureza política, a maioria de natureza social. Nos últimos anos estes fenómenos tem assumido na Europa e na América do Norte uma dimensão imparável e provocam constrangimentos políticos tremendos que fundamentam uma mudança do panorama político e condicionam os sistemas políticos estáveis.
As crises normalmente levam à mudança nos países. A crise social aliada às sucessivas crises financeiras e económicas estabelecem as bases para a destabilização e para alguns setores radicais empreenderem um processo de por em causa os sistemas políticos.
Os modernos regimes políticos democráticos assentes na defesa da igualdade, da não discriminação e da liberdade de escolha, veem-se confrontados por setores que, sob a acusação de opções de politicamente correto para a universalidade, colocam em causa os direitos dos que dentro de cada país para ele contribuem.
As instituições nacionais e europeias são confrontadas por crises várias na última década que exigiram decisões difíceis e de elevados custos, políticos e económicos. Igualmente os EUA têm sido confrontados com uma permanente tentativa de acesso a sul de novos migrantes, que põem em causa a estabilidade do regime.
A gestão destes processos polémicos implicam a busca de equilíbrios entre a humanidade universal e a responsabilidade nacional. Esta tarefa não se demonstra simples, nem fácil. Quando os recursos são escassos a resposta não cobre os dois lados do problema e tal tem implicado um crescente protesto no modo tradicional de resposta dos sistemas.
Os problemas surgem sob a forma de votos em partidos antissistema e no aparecimento de modelos não organizados e sem agenda específica (como os coletes amarelos) no apelo a sentimentos básicos e primários dos cidadãos, uso das redes sociais a partir de pontos sem rosto e sem fundamento ideológico algum, que cresce num dia para de esvaziar no dia seguinte.
Este constitui o novo desfio das democracias que aparentemente se demonstram cansadas ao fim de um século de pujança e de respostas em que jugávamos estar perante o regime mais adequado. Winston Churchill afirmou que “A democracia é a pior forma de governo, salvo todas as demais formas que têm sido experimentadas de tempos em tempos.” E ainda não descobrimos regime melhor onde todos se revejam e se sintam representados.
Mas, precisamos de estar atentos e ter presente que, perante apelos nacionalistas e ações racistas, a democracia pode ser posta em xeque pela própria democracia. Entre políticos populistas e mal preparados para gerir um país a pensar no futuro, devemos recusar que a governação de qualquer país seja ditada pela política quotidiana e de gestão à vista que se esgota no imediato.
O próximo ano, pleno de atos eleitorais em Portugal e na Europa exige atenção, cautela e responsabilidade a pensar no futuro de todos e não apenas de alguns. Os sistemas atuais continuam a ser “Democracia é o governo do povo, pelo povo e para o povo” (Abraham Lincoln). Continuamos sem perspetivar melhor.