Mario Draghi foi o responsável pelo Relatório que aborda os desafios da competitividade europeia. Esta iniciativa teve início no repto lançado pela Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, cuja prioridade é a competitividade europeia, com especial enfoque na redução da burocracia e na coesão do mercado interno.

Convém contextualizar a evolução deste assunto ao longo dos últimos 25 anos.

Em março de 2000 foi lançada a Estratégia de Lisboa, que ambicionava tornar a União Europeia numa economia competitiva e dinâmica até 2010. Em 2008, a Agenda da Competitividade e Crescimento ganhou forma. Em 2010, foi a vez da Estratégia Europa 2020, um plano que visava impulsionar o crescimento em resposta à crise financeira, e, mais uma vez, ambicionava tornar a Europa numa economia competitiva.

Apesar dos objetivos serem ambiciosos, chegamos a 2024 muito longe do que seria de esperar, não apenas pelo fraco desempenho da economia europeia, mas principalmente pela descolagem dos grandes blocos económicos, especialmente no que diz respeito à tecnologia.

Basta pensarmos nas redes sociais onde, entre Facebook, Instagram, rede X, WhatsApp, etc., não temos uma única empresa europeia, nem um acionista europeu como referência em qualquer destas empresas, que detêm o monopólio do mercado europeu.

No setor das telecomunicações vivemos a mesma situação. Qual a marca de telemóveis europeia que sobreviveu à inovação da Apple, da Samsung ou da Xiaomi?

Nos últimos 125 anos, a hegemonia americana não parou de crescer. O mercado de ações norte-americano, que em 1999 representava apenas 15% da capitalização mundial, atingiu os 50% em 2017 e em 2024 já supera os 65% do MSCI All Country World Index (ACWI)! A alternativa ao dólar, criada pelos BRICS, não passa de uma diversão, uma brincadeira que mantém os europeus distraídos.

O Relatório Draghi, infelizmente, não deixa de ser mais do mesmo, uma vez que não refere nada de novo que a Estratégia de Lisboa não o tenha feito. Talvez aborde pela primeira vez a problemática da dívida conjunta para financiar o investimento de 800 mil milhões de euros por ano até 2030, ou seja, quatro biliões de euros em cinco anos.

O relatório destaca ainda a urgência em repensar as estratégias regulatórias para que promovam a inovação, em particular ao nível da tecnologia e inteligência artificial, onde a Europa está atrás dos EUA e da China. A evolução tecnológica é exponencial e, quantos mais meses demorarmos, mais anos ficaremos para trás.

Apesar de não trazer novidades, o Relatório Draghi serve para alertar que, tal como no clima, estamos quase a atingir a irreversibilidade da Europa se tornar dispensável.