A venda do Novobanco é mais do que um mero negócio de rotina, porque vai alterar estruturalmente o setor bancário em Portugal. Primeiro, fecha o mercado a outras concentrações internas relevantes se a solução passar por um dos atuais maiores players, mas, muito mais do que isso, vai definir se ainda haverá bancos privados com dimensão com centros de decisão em Portugal.

Não está em causa a titularidade do capital, mas saber onde se encontra a capacidade de decisão.

A ideia dos tais centros de decisão nacional perdeu-se no tempo, mas a sua importância não podia ser mais atual, e, num mercado fundamental para o tecido económico como a banca, não será uma boa ideia reduzir este espetro a uma única instituição, a pública CGD. Aceitá-lo é concordar com uma limitação ao desenvolvimento e à disponibilidade de instrumentos estratégicos que, no quadro atual, têm uma importância acrescida.

A germanização e a espanholização da banca europeia pode ser uma ambição de Bruxelas, pelos ganhos de escala, mas tem custos no alinhamento do sistema financeiro com empresas nacionais. No caso do Novobanco, que herdou do BES uma tradição de relação com as PME, a preocupação é óbvia.

Todos conhecemos a forma como as instituições financeiras espanholas acompanham as campeãs nacionais na conquista de novos mercados. E, por alguma razão, o governo alemão se opõe à investida do UniCredit sobre o Commerzbank.

Claro que o mercado é determinante e a competitividade tem de ser garantida, mas nunca nos devemos esquecer de que este é um negócio de confiança e só confiamos em quem conhecemos.