Esta semana escrevo de Bruxelas, onde uma ameaça de bomba obrigou à retirada de dezenas de pessoas de um edifício junto ao Parlamento Europeu, um dia depois do ataque na cidade holandesa de Utrecht. O combate ao terrorismo é um dos temas quentes destas eleições europeias, mas Portugal continua à margem deste debate e de outros não menos importantes.

Os portugueses têm vindo a votar cada vez menos nas eleições, contribuindo para o aumento galopante da abstenção. Em 1975, a abstenção em Portugal situava-se nos 8,1%, nas últimas legislativas, em 2015, atingiu os 44,2%. A abstenção tem vindo a alastrar na faixa etária dos 30 aos 44 anos, faixa essa que está no seu pico de produtividade e é das mais fustigadas em termos de impostos.

Portugal tem uma das mais elevadas taxas de abstenção da União Europeia, nas últimas eleições para o Parlamento Europeu bateu-se o recorde de abstenção, 66,2%, valor que nos aproximam das democracias da Europa de Leste. Segundo os dados divulgados pelo Parlamento Europeu, a taxa de participação oscilou entre os 13% na Eslováquia e os 90% na Bélgica e Luxemburgo, surgindo atrás de Portugal apenas sete Estados-membros: Eslováquia, República Checa, Eslovénia, Croácia, Polónia, Hungria e Letónia.

É verdade que este é um padrão, a diminuição da participação nas eleições, que se repete em toda a Europa. Apenas nas últimas eleições europeias foi registado um ténue aumento nos valores da taxa de votantes. No entanto, o nosso país é o segundo dos 28 Estados-membros que mais depende da União Europeia em termos de financiamento. A Comissão Europeia transferiu, no total, 101.771 milhões de euros para os Estados-membros e, deste montante, 7,3% foi entregue a Portugal.

Que o país seja dos que mais beneficia e, em simultâneo, figure entre aqueles que os eleitores menos demonstram interesse na disputa das eleições europeias é sintomático da alienação dos portugueses em termos de conhecimento do trabalho desenvolvido pelos seus eurodeputados e das decisões tomadas.

De facto, nas últimas eleições europeias ocorridas em 2014, a comunicação social divulgou uma sondagem que, entre outros dados, revelava que 60% dos inquiridos não sabia nomear um único eurodeputado português em funções no Parlamento Europeu. O desconhecimento das regras e dos protagonistas do xadrez político europeu revela a distância entre os eleitos e os eleitores.

Isto traduz-se em algo ainda mais grave – o desconhecimento conduz igualmente a uma falta de escrutínio ao trabalho efectuado pelos deputados. É desta forma que questões vitais para o país, como o quadro de financiamento actual PT2020 e o futuro PT2030 para a próxima década, são discutidas e decididas sem qualquer fiscalização pelos cidadãos. Uma questão grave e pertinente tendo em conta que 85% do investimento público advém dos fundos comunitários.

A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.