“O trabalho é a melhor e a pior das coisas: a melhor, se for livre; a pior, se for escravo” (Alain).

No espaço de uma semana temos, há muitos anos, dois fortes focos irmanados pela luta de ideias, de ideais – originando feriado nacional –, e que sem eles o ser humano nada seria: a Liberdade e o Trabalho. Ou, a ser, muito pouco estaria nos enredos descartáveis de que Voltaire se refere – “O trabalho poupa-nos de três males: tédio, vício e necessidade”.

De facto, havendo trabalhos tediosos ou não, é certo que o trabalho bem escolhido, bem desejado e bem feito é crucialmente imprescindível! É o mesmo que estar bem, tanto para a saúde como para a realização pessoal, ambos transformadores de bem-estar, correspondendo ao “fruto que se colhe”, como exprimiu o Pe. António Vieira, e em sermos uma gota maior no oceano, na ideia da Madre Teresa de Calcutá. Note-se que a Ética e a Moral também doutrinam sobre a importância das condições condignas sociais, salariais e humanas, do trabalho e dos trabalhadores…

Mesmo não se angariando aquele trabalho de eleição, da área específica, muitas das vezes é a solução única e quase obrigatória, não se fundindo com a decisão apetecível e confortável para o trabalhador, em que outras partes intrínsecas à equação – formação, estabilidade e coração/motivação – o confundem. Até desvirtuam.

Ainda esta semana saiu uma estatística apontando que sete em dez funcionários querem obter um novo trabalho/emprego, onde é notável esse desencanto. Mas é o que há e se arranja, para sobreviver. Quando a melhor forma de viver vai-se perdendo, diluindo celeremente: a de conviver, em harmonia, com os demais, com o seu próprio trabalho e o dos outros.

Importa não esquecer que esta ocupação do Trabalho e preocupação pelo mesmo, consagrados na Declaração Universal dos Direitos Humanos (dizia, e bem, Victor Hugo que “o trabalho não pode ser uma lei sem que seja um direito”), já vem de há dois milénios, da Grécia Antiga pelos seus pensadores: ora Séneca, para quem “o trabalho é o alimento das almas nobres”; ora Demócrito, ensinando-nos que “a labuta contínua torna-se mais fácil de suportar à medida que nos habituamos a ela”.

Portanto, metaforizando o todo laboral como um ‘baralho de cartas’, ele encontra-se deveras baralhado, no “cabo dos trabalhos” e, por vezes, mesmo desbaratado. Não é coisa de agora, sempre tão inflamado e queixoso. Medidas e manifestações (sindicais ou não), sempre discutíveis, presenteiam o cidadão comum – na nossa e noutras sociedades – ao longo do ano e, sobretudo, neste 1.º de maio, em que a maioria dos trabalhadores tem direito a descansar e não a trabalhar. Não sucede com todos, a fim de que sejam garantidos os serviços mínimos nas áreas sociais mais prementes.

A discussão não é de agora e, por exemplo, ressurgiu recentemente no dia de Páscoa, acerca de se fecharem as lojas dos centros comerciais aos domingos, tal como acontece com sucesso noutros países europeus. As pessoas habituam-se, criam novos hábitos, mais salutares, e ninguém morre por isso nem fica a faltar emprego/trabalho por um dia em cada semana (em fim de semana).

E não se trata de ser cristão – dos valores inerentes à Família e ao “Dia do Senhor” (= domingo) – ou não cristão. Não vejo mal nisso nem discordo, tal como mais de 37.800 assinantes da petição pública em circulação. Assim como há o direito ao trabalho, também o há ao descanso. Para melhor se cumprirem os deveres.

O que vejo com péssimos olhos e bastante desassossegado, em termos do mundo de trabalho futuro vs. empregabilidade intelectual e que parte dos mundos escolar e académico, é os Estados português e brasileiro quererem truncar/apagar os estudantes – futuros trabalhadores e garantes do progresso e desenvolvimento – das indispensáveis luzes do pensamento! De que forma?

Cá, ao reduzirem na matriz curricular das ciências humanas e sociais: no ano lectivo 2019/20, os 2.º e 3.º ciclos terão menos uma hora de História e de Geografia (será tirada a hora que fora concedida a mais em 2012/13), tal como aconteceu há uns anos com a Filosofia. Lá, ao ser decretado o fim das Faculdades de Filosofia e Sociologia. Que caminhos estes! Ambos, que pretendem e para onde nos levam…?

E termino como comecei, com um pensamento, este conduzido pelas sábias palavras de Steve Jobs e relacionado com o que escrevi: “A única maneira de fazer um trabalho extraordinário é de amares aquilo que fazes. Se ainda não o encontraste, continua a procurar. Não te acomodes. Tal como com os assuntos do coração, tu saberás quando é que o encontraste”.