Na edição da semana passada, o Jornal Económico publicou um trabalho de investigação da autoria do jornalista João Palma-Ferreira, sobre os negócios de Isabel dos Santos na Rússia. Entre outras coisas, a peça revela a identidade russa da empresária, bem como as suas ligações a homens fortes do regime de Putin, alguns deles ligados ao universo dos serviços secretos, que na Rússia se confundem frequentemente com os poderes político e económico.

Apesar de o artigo não conter qualquer informação que ponha em causa o seu bom nome – não é crime ter passaporte russo, nem fazer negócios nesse país -, Isabel dos Santos apressou-se a tentar desmentir a notícia no dia em que foi publicada, considerando-a uma “fabricação”, tal como de resto tem feito com peças de outros meios nacionais e estrangeiros.

Isabel dos Santos trava uma luta pela sobrevivência em várias frentes e terá as suas razões para estas tomadas de posição. Não nos cabe especular sobre isso. Devemos, sim, prestar contas pela parte que nos toca, uma vez que acreditamos num jornalismo independente e de qualidade, que responde apenas perante os leitores.

Em primeiro lugar, não teríamos publicado a notícia se não estivéssemos certos da sua veracidade. As informações foram confirmadas junto de fontes independentes e houve um esforço significativo para ouvir todas as partes atendíveis na história. Ao longo de várias semanas, Isabel dos Santos foi questionada diretamente, por telefone e por escrito, mas nessas ocasiões nunca desmentiu os factos concretos com que foi confrontada. Simplesmente optou por não responder às questões e por sugerir entrevistas presenciais que nunca se concretizaram.

A questão que se coloca é, portanto, evidente: se as informações eram falsas, porque é que Isabel dos Santos esperou pela publicação da notícia do Jornal Económico para a tentar desmentir nas redes sociais?