Existe uma expressão portuguesa, “empurrar com a barriga”, que traduz situações que não se pretende resolver.

Associado a esta expressão, bem portuguesa, estão afirmações, do tipo “estamos a trabalhar nesse projecto e esperamos ter resultados a curto prazo”, “já iniciamos a análise dessa questão, e esperamos ter uma decisão ainda este ano”, e outras semelhantes, em que se atira para o futuro, decisões e actuações, que deviam ser objecto de tratamento imediato.

Mas, nos tempos recentes, surgiu uma nova abordagem, quando não se quer resolver um problema, que apelidarei de “desvio lateral”, e que consiste em lançar a discussão sobre um tema lateral, para fugir à decisão sobre o tema principal.

Não resolvo os problemas actuais relacionados com a paz e a segurança mundial, falo sobre alterações climáticas e organizo conferências sobre o futuro.

Não resolvo o problema da degradação do ensino público, falo sobre inclusão e casas de banho mistas.

Não resolvo a morosidade dos processos judiciais em tribunais administrativos e tributários, falo sobre a comunicação social.

Não resolvo a nossa baixa produtividade, falo sobre a semana dos quatro dias.

Neste “desvio lateral”, os autores, da arena política, que se especializaram nesta tática, carregam nas cores escuras com que comentam as situações laterais, para aumentar a emoção sobre as mesmas.

Sobre as alterações climáticas, por exemplo, usa-se a expressão “ebulição global”, mais aterradora do que “aquecimento global”.

A influência de alguns destes desvios laterais, ligados ao mundo empresarial, sobre a nossa economia, é devastadora e são uma parte relevante para a justificação do nosso crescimento medíocre e para o empobrecimento do país.

O ruído mediático associado a estes desvios laterais contribui, para o adiamento de decisões fundamentais para a alteração do perfil económico do nosso país, e estão na base da resignação da classe empresarial, em relação aos prazos para estas decisões.

Não é só o aeroporto de Lisboa que está para decisão há cerca de 50 anos.

A grande maioria dos processos jurídicos nos tribunais administrativos e fiscais demoram, em média, cerca de 10 anos, para serem resolvidos, afastando, de forma definitiva, investimento estrangeiro estruturante.

Os desvios laterais, infelizmente, vão continuar, para nos anestesiarem e para nos resignarmos com a estagnação económica do nosso país.