O nome André Pinto diz-lhe alguma coisa? Se perguntar ao Presidente da República é provável que, como em quase tudo, ele saiba. Desta vez, por uma razão adicional: trata-se de um defesa-central, e capitão, da equipa do clube do seu coração – o Sporting Clube de Braga. Na verdade ex-capitão.

Explico: há uns três meses, soube-se que o jogador, em fim de contrato com o SCBraga, decidira não o renovar, tendo um pré-acordo com o Sporting. Tanto bastou para deixar de ser convocado, mesmo quando quase todas as outras alternativas estavam indisponíveis por lesões ou castigos. Mais ou menos a partir daí, o Braga tem tido um desempenho medíocre, um dos mais fracos entre as equipas da Primeira Liga.

Não se julgue que é caso único. Quem está atento ao fenómeno futebolístico sabe que algo parecido se passou, no ano passado, quando Carrillo se recusou renovar com o Sporting, comprometendo-se com o Benfica. Fica a dúvida: tivesse Carrillo sido opção, poderia o Sporting ter ganho o campeonato? O FC Porto tem um histórico semelhante, sendo o caso mais recente protagonizado por Rolando, também ele um defesa. Certamente por acaso, o Porto não ganhou nada desde então.

Paralelamente, na Alemanha, Hummels – o desgraçado autor do segundo golo a Portugal, no Mundial do Brasil – transferiu-se, no início desta época, do Borussia de Dortmund para o seu principal rival, o Bayern. Soube-se do negócio cedo, o que não impediu que o jogador tivesse cumprido a época até ao fim, incluindo defrontar o seu futuro clube. Anos antes, Lewandowski (outro desgraçado que, no dito Mundial, conseguiu expulsar Pepe) decidiu não renovar com o Borussia. Ainda assim, fez todo o resto da época, jogando inclusive contra o Bayern, numa manifestação de confiança do clube no seu profissionalismo.

Que Portugal e a Alemanha são dois países muito diferentes não é novidade para ninguém. A gestão, ou melhor, a qualidade da gestão é um dos domínios em que tal, também, acontece. A Autoeuropa é, porventura, o exemplo que nos ocorre mais rapidamente. Um estudo com um âmbito mais alargado (a chamada World Management Survey) coloca a gestão alemã no topo nas empresas europeias, e apenas atrás dos Estados Unidos da América e do Japão, no mundo. Portugal aparece em 8º, num total de 11 países analisados.

Nesta análise não estão em questão pessoas, nem qualificações (embora estas não sejam, obviamente, despiciendas), mas práticas: como se fixam os objetivos, como se faz o acompanhamento e controlo da gestão, como se estabelecem e gerem os incentivos. Não há espaço para a subjetividade nem para as lamúrias sobre os custos de contexto e todas as razões exteriores às empresas que tanto gostamos de invocar.

Voltemos à Autoeuropa. Uma história de sucesso que esteve prestes a ter um fim prematuro. Uma reorganização profunda salvou a fábrica do encerramento, tornando-a numa referência no grupo Volkswagen. Os trabalhadores permaneceram, para todos os efeitos, os mesmos, o que não quer dizer que a empresa não invista fortemente em formação e no recrutamento de pessoas qualificadas. E nem era um problema de os gestores serem estrangeiros: a Autoeuropa teve alguns dos seus melhores resultados sob a liderança de Melo Pires.

Neste contexto da qualidade da gestão, os episódios envolvendo futebolistas, e o contraste entre as decisões dos clubes portugueses e alemães, serão apenas detalhes. Serão?