O discurso de diversificar a economia em Angola não é de hoje, não é de ontem e todos esperam que não seja de amanhã. No entanto, a verdade é que, ano após ano, o país não consegue a tão almejada diversificação, centrando no petróleo toda a sua estrutura económica, uma opção que, como temos visto na última década, é um erro estratégico.

Apesar da pandemia que vivemos, a verdade é que já antes da Covid-19 verificava-se a queda do preço do petróleo, muito devido às energias renováveis, que dificilmente não serão o motor mundial no futuro, como foram os combustíveis fósseis no passado.

Não se pode escamotear que a dependência fiscal das receitas do petróleo (segundo vários analistas, de 90%) tem de ser olhada com muito cuidado pelo Governo angolano, ainda mais numa economia extremamente dependente de matérias-primas que estão em baixa de preços e de economias estrangeiras, principalmente da China. Esta dependência apenas aumenta a possibilidade de desencadear mais uma grave crise económico-social no país.

É verdade que Angola passa por uma reforma profunda, tendo em vista um novo modelo de desenvolvimento que tem como um dos focos o investimento privado, mas é preciso mais para a debilitada economia angolana. Principalmente… diversificação.

Ao que tudo indica, essa diversificação futura vai passar pela mineração, concretamente pelos diamantes. Recentemente, o Governo de João Lourenço revelou que espera uma taxa de crescimento de 14,3% no sector, uma boa notícia para os cofres angolanos, principalmente depois da contracção de 2020. Após uma queda na procura e no valor, para este ano estima-se um aumento dos preços para 184,6 dólares/quilate, fruto da recuperação da procura de diamantes um pouco por todo o mundo.

Por isso, o sector dos diamantes é um dos sectores que deve ser olhado com especial atenção pelos angolanos, ainda mais quando é um sector que, ano após ano, apresenta uma robustez e resiliência que pode servir de exemplo para outras áreas. As alterações estruturais ocorrem com consistência e isso acaba por determinar o licenciamento de novos produtores, por exemplo, além de chamar mais investimentos.

Até Outubro de 2020, revelou recentemente o jornal angolano “O País”, as vendas globais dos diamantes equivaleram a uma captação de receitas brutas de cerca de 750 milhões de dólares e, no segundo trimestre de 2020, “a participação do sector diamantífero no Produto Interno Bruto fixou-se em 2,0%”.

Isso comprova a importância do sector dos diamantes como uma saída para o futuro da economia de Angola, precisamente numa altura em que o país pretende “instalar” uma economia cada vez mais dinâmica tendo em vista o aumento das receitas públicas.

Evidentemente que o sector da mineração, particularmente os diamantes, sempre foi um sector que esteve sob o olhar do Governo angolano, ainda mais sendo uma das principais fontes de receitas do Orçamento Geral do Estado, mas esteve em segundo plano em comparação ao petróleo.

Esta política tem-se alterado nos últimos anos, como é exemplo a aposta na lapidação entre portas em vez da exportação de diamantes brutos. Mas também a construção de um Pólo de Desenvolvimento Diamantífero que está a ser construído no Saurimo, na província mineira da Lunda Sul, um pólo industrial que contará com 26 fábricas e que reunirá empresas relacionadas com a economia mineradora com foco na cadeia de valores dos diamantes.

Há ainda planos para a construção de uma fábrica de lapidação na Lunda Norte, para a criação de uma espécie de Bolsa de Valores de diamantes, em 2022, e a implementação do projecto mineiro Luaxe, ainda em estudo geológico-mineiro e que, segundo alguns dados, poderá significar algo em torno de oito milhões de quilates/ano.

Ou seja, podemos afirmar que o sector dos diamantes vive o seu momento de maior brilho. Até agora um país produtor e exportador de diamantes brutos, Angola parece ter encontrado de vez um novo caminho para o sector, muito fruto da construção do Pólo de Desenvolvimento Diamantífero de Saurimo, que terá, por exemplo, como uma das suas funções formar mão-de-obra qualificada, fruto dos 11 cursos ligados à mineração que serão dados no local.

Segundo o Conselho Africano de Diamantes, o sector vale hoje cerca de 1,2 mil milhões de euros anuais a nível nacional, um valor que o Governo pretende aumentar exponencialmente no futuro próximo, ainda mais por Angola ser um dos países com maior potencial para a mineração de diamantes a nível mundial devido às suas reservas. Só no ano passado, subiu 37 posições no FutureBrand, um índice internacional que mede a forma como uma marca é vista no mercado. A responsabilidade social e a transparência são vistas como dois factores essenciais para atrair investimento estrangeiro.

Depois do foco quase exclusivo no ouro preto, ao que tudo indica a luz do diamante vai brilhar mais em Angola nos próximos anos.

A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.