Começo por referir um facto que é relevante para o leitor. Sou dirigente do partido político LIVRE. Um partido de esquerda, sem assento parlamentar, e muitas vezes genericamente rotulado de  “pequeno partido”. Uma análise atenta da maior parte da imprensa, permite-nos concluir que a denominação  “pequeno partido” é a mais usada, em particular durante os períodos eleitorais. Ou seja, mesmo a própria linguagem é contaminada, de forma inconsciente, por um tom discriminatório.

E em que se distingue um “pequeno partido” de todos os outros, para além de fatores puramente financeiros? A verdade é que os media nos habituaram a uma caricatura de partidos grandes e pequenos, como se já estivesse implícito que, por serem “pequenos partidos”, têm menos probabilidades de ser bem-sucedidos. E será que a taxa de sucesso dos “pequenos partidos” é mais baixa porque é o próprio regime político-partidário tem incentivado um sistema fechado que favorece os partidos instalados, penalizando assim a democracia e impedindo uma maior representatividade política?

É bom relembrar que em 2015, à beira das eleições legislativas, foi discretamente votada a alteração à lei da cobertura das campanhas eleitorais em favorecimento dos partidos com assento parlamentar.

E é precisamente no mundo dos debates eleitorais televisivos onde mais se regista a falta de critério e o desrespeito pela igualdade de tratamento de candidaturas. O panorama televisivo demonstra que o critério é ditado pelo estatuto mediático dos candidatos/partidos. Quanto mais conhecidos na praça pública, maiores as suas hipóteses de ter acesso aos debates televisivos, mesmo que isso crie situações injustas e incoerentes em relação a outros candidatos/partidos.

A televisão pretende oferecer, mais do que uma escolha eleitoral informada, um espetáculo mediático e, por essa razão, não podemos deixar nas mãos das direções televisivas a decisão de quem queremos ver representado nos Parlamentos nacional e europeu. Rui Tavares, o candidato do LIVRE às Eleições Europeias de 26 de maio, tem sido uma das vozes mais ativas e insistentes a denunciar esta injustiça e a lutar pelo direito dos cidadãos a serem informados.

Já o nosso Presidente da República, sempre tão lesto a comentar a atualidade, mantém-se tranquilo e silencioso, apesar dos repetidos apelos. Marcelo Rebelo de Sousa sabe que o princípio constitucional de igualdade de tratamento e oportunidade das candidaturas não está a ser respeitado e, por isso, também saberá que ele próprio acaba por pactuar com o funcionamento em cartel do sistema político-partidário vigente.

Ao garantirem que o sistema se fecha entre si, os partidos que têm vindo a dominar o arco da governação há 45 anos, i.e. desde o 25 de Abril, não só se perpetuam como ajudam a promover um sistema endogâmico. Que caminho nos resta? Escolher sangue novo. E, muito possivelmente, nas próximas eleições legislativas em Portugal, já veremos uma alteração da configuração parlamentar, no sentido de uma maior representatividade. Só que, para que isso aconteça, nunca poderemos deixar de questionar o que nos é imposto nem deixar de exigir justiça.