Na semana passada Emmanuel Macron concedeu à revista Le Point a sua primeira grande entrevista desde que eleito presidente da França. A entrevista é interessante porque demonstra que Macron, apesar de em queda nas sondagens, mantém o mesmo discurso que o conduziu ao Eliseu. E que discurso é esse?

Para o perceber, o mais relevante não são tanto as reformas que Macron pretende implementar, mas a forma como as explica. Ao contrário da imagem que tem passado em Portugal, o novo presidente francês não foi eleito apenas pela sua aparência, mas porque apresentou um programa estruturado, diferentemente do que sucedeu com Hollande e Sarkozy, e não se envolveu em qualquer escândalo político, como aconteceu com François Fillon.

O que Macron diz na referida entrevista é que pretende fazer o que tem de ser feito com pés e cabeça. Apesar de o mundo mudar hoje cada vez mais depressa, o segredo do sucesso, acredita ele, está não na reacção aos acontecimentos, mas na resolução dos problemas de fundo que originam as ocorrências que nos atropelam todos os dias. Daí a referência à França como um país amordaçado pelas regras e pelas rendas – e acrescento eu tão parecido com Portugal – um país em que a fiscalidade favorece mais o financiamento da dívida do Estado e das empresas que os investimentos dos que querem arriscar num novo negócio. Os problemas franceses são tão semelhantes aos portugueses que a nossa classe política devia examinar ao pormenor, não só o programa, mas a forma como Macron comunica.

Relativamente à reforma da lei laboral, Macron voltou a repetir que os principais prejudicados da actual lei são os jovens desempregados cuja situação os sindicatos desconhecem ou com a qual não se importam. Mas pior que isso, com a qual beneficiam porque usam o desemprego jovem em prol das suas reivindicações, essas sim, prejudiciais para com os desempregados em nome de quem os sindicatos alegadamente falam. Outro tema são as pensões de reforma relativamente às quais Macron refere que os mais velhos terão de compreender que combater o desemprego entre os mais jovens implica, necessariamente, que se prescindam de certos direitos tidos por adquiridos.

Há quem veja na queda de Macron nas sondagens um reflexo de que este presidente francês é mais do mesmo. Felizmente, e digo-o porque o futuro da UE passa pelo sucesso deste mandato presidencial, talvez não seja mais que o fim saudável da idolatrização de um homem. As próximas semanas ditarão se as reformas que foram prometidas durante a campanha, e que poderão alterar certos sectores da França, irão para a frente. Nessa altura sim, com um presidente ainda mais impopular, saberemos se a França está no caminho certo.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.