Nepotismo é o favorecimento dado a parentes ou amigos por parte de uma pessoa bem colocada, por isso, é associado a má governação e preterição da meritocracia.

Porém, nas empresas familiares, o nepotismo nem sempre é mau conselheiro. Será nefasto se a escolha das lideranças recair em membros da família, como direito próprio, razão por que estatisticamente poucas empresas familiares sobrevivem à segunda geração.

Em sentido diverso, se as gerações seguintes forem preparadas com formação adequada, experiência e acompanhamento próximo do negócio, a sucessão familiar pode significar continuidade saudável e útil.

Neste cenário, a passagem de testemunho torna-se uma ferramenta de preservação da cultura da empresa e de ajustamentos às exigências contemporâneas de cada geração.

O fundador, como dono disto tudo, imprime a cultura, os valores e a visão que moldam a identidade da empresa e este património imaterial, passado de geração em geração, pode gerar estabilidade com evolução e um sentido de propósito capaz de ultrapassar as vicissitudes dos ciclos económicos.

Pensemos na pujança económica dos países árabes e em como as monarquias regentes investem na preparação rigorosa dos herdeiros para assumir responsabilidades políticas e governamentais de forma competente.

Ou a monarquia britânica que prepara tão longa e exaustivamente os sucessores, equilibrando tradição com atualidade.

De igual modo, numa empresa familiar bem governada, o legado pode ser sinónimo de visão estratégica, compromisso e ética.

No setor do luxo, por exemplo, casas como a Hermès, a Chanel ou a Ferrari continuam a ser lideradas por descendentes das famílias fundadoras, preservando a herança de valores e visão empresarial, sem deixar de acompanhar os tempos, promovendo inovação e expansão global.

Vale isto por dizer que o sucesso da fórmula exige good governance, profissionalização e sentido de propósito, pois o risco do nepotismo empresarial mal gerido é real, gerador conflitos e de desmotivação dos talentos que não integrem a família.

Ainda assim, os bons exemplos são possíveis e existem em famílias empresariais em Portugal e por todo o mundo: sobrevivem a várias gerações, apostam na formação dos herdeiros e em governação estruturada, garantindo que a passagem de testemunho seja um processo natural, mas sustentado e estratégico – não um mero favorecimento.

Neste nosso mundo em constante mudança, as empresas familiares que conseguirem equilibrar tradição e hodiernidade terão a vantagem de um grande navio em alto mar: o movimento favorece a resistência e o histórico ajuda a ter visão de longo alcance.

A lei já impõe aos gestores o dever de tomarem decisões não apenas em função do lucro em cada exercício, mas também dos interesses de longo prazo da empresa e de conciliação com os interesses dos vários stakeholders.

E as empresas familiares com passado e futuro sabem que esta é a essência da boa governação. Como diria Mahler, a tradição não é o culto das cinzas, mas a preservação do fogo.