A Comissão Europeia lançou uma estratégia para a igualdade de género, através da qual define objetivos políticos e prevê ações para realizar progressos significativos até 2025, no sentido de uma Europa que garanta condições de equidade, no âmbito das quais existe a necessidade de incluir medidas vinculativas em matéria de transparência salarial que permitam uma acentuada redução do diferencial de salários entre homens e mulheres.

De acordo com o relatório do início de março “Women in Work 2021”, elaborado pela consultora PWC, na última década, os países da OCDE registaram ganhos no que diz respeito ao acesso ao mercado de trabalho (de 66% de mulheres que trabalham em 2011 para 70% em 2019), e a taxa de desemprego feminina é relativamente melhor agora do que em 2011 (6% vs. 8% em 2011), sendo muito próxima da taxa de desemprego masculino (5%).

No entanto, a paridade ainda está muito longe de ser uma realidade, sobretudo quando olhamos para os diferenciais no que respeita às taxas de participação no mercado de trabalho face aos homens (10 pontos percentuais) e à média dos salários pagos – os homens auferem em média 15% mais do que as mulheres nos países da OCDE.

Na análise da PWC, a conclusão mais contundente prende-se com o ritmo de redução destas desigualdades – tendo como referência o ritmo dos progressos da última década, a OCDE irá demorar 24 anos a atingir a paridade no que concerne ao acesso ao mercado de trabalho, e 112 anos a encerrar o diferencial salarial entre homens e mulheres.

Na semana passada, na conferência promovida pelo Orange Lab sobre o tema, a eurodeputada Lídia Pereira considerou que ainda há muito por fazer, afirmando que “a igualdade de género se materializa em coisas muito práticas, não só em lugares, mas também na igualdade salarial. E, nesse tema, Portugal está muito aquém, com um diferencial de 16% entre homens e mulheres”.

A mudança também irá necessitar de uma melhoria por parte da cultura empresarial que temos em nacionais, apesar de muito ter evoluído em Portugal. Leonor Freitas, CEO do grupo Ermelinda Freitas, referiu na sua intervenção que a sua história de vida empresarial lhe mostra isso mesmo. Referiu: “A minha avó não sabia ler e escrever, mas tinha um irmão que era médico. No mundo rural, as desigualdades sempre foram muito mais graves. Felizmente já evoluímos muito e eu tive a sorte de ter uma família com mente aberta, o que me ajuda a refletir sobre a liderança no feminino.”

Uma outra conclusão interessante é a de que o incentivo económico para apostar na paridade representa para Portugal um prémio interessante. Na análise simulada para a OCDE, Portugal, com o “padrão Suécia”, teria um impacte adicional de 13 mil milhões de euros no PIB, ou seja, um contributo anual de 4% para a criação de valor na economia.

Inês Domingos, Economista e Presidente do think tank Internacional Affairs Network, referiu na sua intervenção desta conferência que “o que este estudo nos diz é que se reduzirmos as barreiras à entrada das mulheres no mercado de trabalho, o bem-estar generalizado da população aumenta e não só para as mulheres. Ao aumentar os salários das mulheres, estamos a melhorar a situação económica de todos, inclusive das próprias empresas”.

A estratégia da União Europeia para eliminar o diferencial salarial será assim um acelerador estrutural para uma mudança valiosa. Este objetivo de elementar justiça, que cria riqueza para a economia e para as empresas, não deve ser adiado.