Celebrámos no passado mês de Abril 44 anos de Liberdade, e celebramos neste Novembro 43 anos de Democracia. Passadas mais de quatro décadas, podemos dizer que o peso destes dois conceitos fundamentais perdeu peso específico na sociedade portuguesa.

Depois de uma revolução que nos libertou da ditadura, e do acto rectificativo que nos garantiu a liberdade, parece que nos esquecemos do que provocou essas rupturas saudáveis. Pelo caminho, elegemos Salazar como o maior português de sempre, desacreditando Abril, e vivemos complacentes com um Governo capturado pela esquerda radical, desacreditando Novembro.

A economia e as finanças tomaram o centro do palco político, servindo de cortina de fumo para a livre movimentação dos agentes políticos mais perigosos. Há vários responsáveis para este processo muito salazarento de diabolização da política em detrimento das finanças; uma era perigosa começada pelos governos Cavaco Silva, secundada por Sócrates, de que Passos Coelho foi vítima e Costa herdeiro de oportunidade.

Se houve com Cavaco e Sócrates um pragmatismo anti-ideológico, há com Costa um oportunismo que se consagra politicamente na revanche aberta do 25 de Novembro. O governo de hoje é o símbolo do que Eanes e Jaime Neves derrotaram em Novembro de 75. Quem não compreendeu ainda que a Democracia está sob ataque e a liberdade em perigo iminente, não percebeu nada do que se está realmente a passar.

Importa recordar o que é uma democracia de tipo ocidental nos dias de hoje. O Sérgio Godinho cantava em bom ritmo uma série de exigências para o novo Portugal que renascia: “só há liberdade a sério quando houver a paz, o pão, habitação, saúde, educação!”. É pois, seguindo Sérgio Godinho, insuspeito de ser da direita reaccionária, que faço a análise do estado a que chegámos.

Começando pela paz, nunca a sociedade portuguesa esteve tão dividida. Nunca um Governo e os seus apoiantes patrocinaram abertamente tantas causas fracturantes, provocando rupturas sem precedentes no tecido social, abalando os valores que nos alicerçam para mais facilmente reinarem; afinal, procedimentos básicos de qualquer ditadura.

Segue-se o pão, tirado por impostos cegos, injustos e asfixiantes, compensados com pseudo-aumentos absolutamente insultuosos para quem mais precisa. Não é por a rua se ter calado e a imprensa mudado de foco, que quem vive com reformas de miséria ou com o salário mínimo, poderá comprar o “pão” a que tem direito para ser livre.

A habitação, leva-nos a pensar que outro governo, em tempos de normalidade económica, desprezou tanto a habitação, tentando esconder com malabarismos à custa da propriedade dos outros, a sua absoluta falência no sector.

Segue-se a saúde, a que o PS democrático de outrora dedicou inegável empenho e fez obra palpável. A forma de matar e enterrar esse PS passa também pelo ataque declarado e morte do Serviço Nacional de Saúde. Passa pela asfixia de médicos, ausência de meios, abandono dos hospitais e absoluto desprezo pelos doentes.

Por fim, a educação. Educar para o homem novo que a extrema-esquerda quer forjar passou a ser o papel da escola pública, minando irremediavelmente a confiança de pais e educadores, fazendo dos alunos meras cobaias de um projecto social radical. Pois é, Sérgio Godinho, os seus camaradas de então encarregam-se agora, quatro décadas depois, de destruir cada um dos pilares da Liberdade e da Democracia.

Os factos são indesmentíveis, a adopção gay, as barrigas de aluguer, a eutanásia, causas primordiais deste Governo cativo da extrema-esquerda, dividiram radical e desnecessariamente a sociedade portuguesa. O revisionismo histórico que nos querem impor, tentando trocar a nossa grandeza pela caricatura insidiosa de um povo malvado e torcionário, visa apenas minar a nossa auto-estima colectiva e vulnerabilizar a nossa coesão patriótica.

A discriminação descricionária da cultura do país por uma ministra é um acto atentatório da democracia e da liberdade, é tirania ideológica à boleia de algumas sensibilidades pessoais. A opção permanente dos impostos generalistas sobre os impostos sobre o rendimento, só prejudicam quem menos tem e pior vive. As leis penalizadoras da propriedade apenas minam a confiança, retraem o investimento, acabam com postos de trabalho e não resolvem o problema do acesso à habitação a ninguém.

A negação desumana da ala pediátrica do S. João, a falência dos hospitais de Gaia, Garcia de Orta ou Santa Maria, a falta de medicamentos e o bloqueio das melhores terapias é um ataque à cidadania livre e digna. O caso Torrinha, com o seu célebre inquérito, a inclusão à força e sem meios, os programas de puro experimentalismo social, acabaram com a credibilidade e confiança da escola pública.

Não, não estão reunidas as condições para continuarmos a falar de Liberdade e Democracia por culpa exclusiva das opções políticas que António Costa decidiu fazer quando, depois de uma derrota pesada, decidiu tomar o poder a qualquer preço, vendendo Portugal ao diabo. É o enterro de todas as esperanças de Novembro, apesar da alegria de alguns dos que tentaram capturar Abril.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.