São gritantes as desigualdades entre regiões neste tão exíguo espaço territorial que compõe o nosso país. Basta para isso observar a disparidade existente entre a riqueza per capita gerada por região e, de repente, temos um fiel retrato da distribuição geográfica dos incêndios florestais, decalcado de indicadores económico-sociais que colocam a nu as debilidades regionais.

O formato da pirâmide etária portuguesa na década de 60 do século passado apresentava um padrão de crescimento rápido da população. Já em 2004, apresentava um padrão de crescimento lento a nulo. Segundo o cenário-base de projeções do INE para 2050, estaremos perante um modelo de pirâmide de crescimento negativo. Mas, se analisarmos o fenómeno por região, o retrato do país ao nível da sustentabilidade geracional é tao evidente quanto alarmante.

O índice de dependência total, medido pelo número médio de indivíduos entre os 0 e os 15 anos e com mais de 65 anos por cada 100 indivíduos, é revelador da degradação da relação entre a população dependente e a que está inserida na faixa etária de vida ativa: distritos como Portalegre, Guarda, Castelo Branco ou Bragança, apresentam um índice de dependência superior a 65. Isto quer dizer que existem nestes distritos, em média, 65 indivíduos que dependem de 35 que estão inseridos na população ativa.

É, no entanto, muito curioso verificar que este padrão é contrariado quando se tomam medidas específicas com impacto regional. A título de exemplo, a fixação de população jovem decorrente da instalação de equipamentos do ensino superior em algumas regiões do país teve efeitos muito positivos a contrariar a tendência de envelhecimento da população.

É o caso de Aveiro ou Braga, cuja proporção da população na classe etária entre os 15 e os 24 anos supera a média nacional ao longo das últimas décadas (em 2011, respetivamente 11,2% e 12,4% face à média nacional de 10,9%). Mas também é o caso da Covilhã, com 13,6%, quando comparado com o eixo regional em que se insere (Guarda, com 11,1% ou Castelo Branco com 12,5%).

Medidas como o intercâmbio de experiências para jovens entre regiões do litoral e do interior só pecam por tardias. Aliás, ironicamente tardias uma vez que nos arriscamos a que o interior já não tenha jovens para dar “à troca” com o litoral neste intercâmbio que agora se pretende promover.

Não chega. Urge uma política territorial integrada que promova três grandes eixos fundamentais: a defesa da soberania (territórios desertificados ameaçam a soberania), a valorização económica e social (redução das desigualdades sociais económicas por melhor aproveitamento do potencial regional de geração de valor e aproveitamento dos recursos), e a sustentabilidade (uma vez que desequilíbrios nas economias regionais geram maior dependência de fluxos financeiros do Estado).

Seremos muito incompetentes como gestores, dirigentes políticos, agentes sociais, ou apenas cidadãos, se não formos capazes de colocar em agenda, no topo das prioridades, uma política eficaz de promoção e valorização dos territórios. O potencial de geração de riqueza também está cá dentro. E, no que toca à orientação estratégica a dar a cada região, há muito por fazer. Quase tudo.