Foi apresentado o Manifesto Pelo Mundo Rural Português pela ANPC – Associação Nacional de Proprietários Rurais Gestão Cinegética e Biodiversidade, um documento importante em prol de uma luta urgente: alertar para as necessidades e realidades no esquecido Mundo Rural e fazer convergir várias personalidades políticas a comprometerem-se neste desafio.

Por estranho que pareça, foi um evento funesto que mais contribuiu para alertar para os problemas no interior. Os violentos incêndios nos últimos anos revelaram o aspecto frágil dos territórios, o despovoamento, a gestão de recursos e dinheiro públicos de braço dado com a corrupção. O desequilíbrio actual é de tal ordem que já não dividimos o país entre norte e sul mas entre litoral e interior. E o interior necessita de políticas de convergência entre o Mundo Rural e o Urbano.

Mas como informar a opinião pública e conquistar o seu apoio para as necessidades e realidades no Mundo Rural? Uma população em fuga do interior para o litoral há muitas décadas, que vai perdendo os vínculos cada vez mais ténues com a natureza, a ser constantemente bombardeada com informação tóxica, na qual a natureza é substituída por algo idílico em discursos de pacotilha para angariar votos mas antagónica à realidade e prejudicial ao Mundo Rural.

Chegados a este ponto, assistimos a violentos debates na sociedade sobre a permissão de animais de estimação em zonas de restauração, sem que haja debate sobre a aprovação de leis que fomentam pragas de predadores que, num curto espaço de tempo, vão arruinar o ecossistema. Parece caricato mas é aqui que estamos, é o Estado a que isto chegou.

As tentativas de passar leis no parlamento pelo partido PAN, entre tantas outras iniciativas a que assistimos na actual legislatura, são das que mais têm contribuído para devastar o mundo rural e não para o promover, proibindo a caça das raposas e dos javalis. Rejeitar a realidade das pragas desses animais que assolam o mundo rural é de uma cegueira atroz.

Assistimos também ao anúncio, pelo ministro do Ambiente, do objectivo de reduzir o número de bovinos para metade até 2050, com vista a diminuir a emissão de dióxido de carbono e gases equivalentes (CO2eq), não tendo em conta o frágil equilíbrio económico de tantas zonas no país dependentes da criação de gado.

Nas próximas eleições europeias, é imperativo que quem seguir para Bruxelas recuse que uma área tão essencial para a economia nacional seja afectada pelos cortes de fundos. Portugal também tem de regressar à sua posição cimeira na execução dos fundos, deixando para trás a péssima gestão do PT2020 pelo actual Governo. O Mundo Rural contribui com menos votos que as zonas urbanas, mas também vota e paga os mesmos impostos. Eis a questão que justifica o esquecimento a que é votado pelas forças políticas, mas também o seu peso quando chegar o momento crucial de ter voz e reverter a situação.

A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.