Quase todas as pessoas que trabalham, trabalham em empresas, pelo que falar do estado das pessoas é falar do estado das empresas.
À partida, parece haver um certo paradoxo, porque por um lado dir-se-á que o estado das empresas vai muito para além do estado das pessoas, porque há mercados, clientes, investimento, tesouraria, fornecedores, etc., etc., e, por outro lado, ouvimos incessantemente dizer que as pessoas são o maior ativo das empresas, que as empresas são as pessoas que nelas trabalham.
Possivelmente está tudo certo, o estado das empresas vai para além do comportamento e talento das pessoas, mas, ainda assim, são as pessoas, em toda a sua hierarquia, que geram o pensamento das decisões e as relações laborais.
E, se calhar, até posso ir mais longe e dizer que o que se passa na empresa em termos comerciais, financeiros, produtivos ou ao nível dos fornecedores, não surgiu de geração espontânea nem é obra do divino. São as pessoas internas à empresa que com as suas atitudes de gestão e de relacionamento com “outras pessoas de outras empresas” fazem o estado das coisas.
Portanto, as pessoas estão sempre no cerne da questão, influenciam os momentos, são o estado da empresa. Para mim, são as pessoas e o seu estado de saúde, físico e mental, que condicionam fortemente o dia a dia das empresas.
É sobre este ponto que toda a minha carreira de gestor incidiu e, hoje, por força da idade e experiência, mantenho a tónica. Se queremos empresas mais fortes e saudáveis, façamos com que as pessoas sejam mais fortes e saudáveis, individualmente.
Se uma empresa é um conjunto de pessoas a relacionarem-se continuamente, é fundamental que essas pessoas estejam bem consigo mesmas. Ninguém pode dar algo que não tem. Ninguém pode “contribuir para a saúde da empresa se o seu interior não está saudável”.
É verdade que vivemos num país de pobres salários, mas, ainda assim, não justifica deixar empobrecer a saúde mental das pessoas, essencialmente a sua motivação e o seu equilíbrio comportamental.
Não é possível ter empresas saudáveis com níveis de depressão e ansiedade a afetar uma em cada quatro pessoas em Portugal, com a agravante do ritmo de subida de casos anuais. Podemos não ser ricos materialmente, mas não temos necessariamente de ser pobres psicologicamente.
Urge investir nas pessoas, desde muito cedo, para que consigam chegar ao mercado de trabalho fortes, não apenas em conhecimentos, mas também conhecedoras de si mesmas.