O Relatório de Estado do Ambiente (REA), lançado no dia mundial do ambiente, 5 de junho, foi escassamente coberto pelos media, que se limitaram a reportar breves estatísticas de três áreas: os resíduos, em que ficamos a saber que cada português produziu em 2017 1,32kg de lixo por dia, e que as taxas de reciclagem são baixas; os processos de avaliação de impacto ambiental, cujo número baixou; e por fim o clima, em que a grande seca do ano passado fez com que não houvesse água nas barragens para produzir eletricidade e, consequentemente, poluímos mais.
Apesar do REA ser um documento de diagnóstico, e por isso sem soluções, é, ainda assim, muito relevante, pois constitui atualmente a principal forma do público português perceber a evolução anual do estado do ambiente no país. Por alguma razão mediática, muito provavelmente relacionada com o facto de haver poucos assuntos que tocam o dia a dia da maior parte dos cidadãos, as notícias reduziram o REA aos pontos listados acima.
Gostaria de desenvolver um pouco mais as áreas da energia, transportes, e biodiversidade, sobre as quais pouco ou nada foi referido, mas terá que ficar para análises futuras pois existe uma falha de estrutura para a qual me parece mais relevante alertar.
Como economista, tenho particular apetência pela análise dos variados anti-inflamatórios, antipiréticos, revitalizadores e similares para tratar problemas ambientais, caso dos impostos e subsídios e/ou a liberdade ou restrição de trocas comerciais, consoante as tendências de cada um, daí ter dado maior atenção ao domínio “Economia e Ambiente”.
Se, por um lado, o documento não fala nos subsídios em lado nenhum, por outro tenta dourar a pílula dos impostos realçando que irão servir para melhorar o estado do ambiente. O problema é sempre o mesmo: o destino dos impostos, ainda que indireto, nunca é conhecido.
Sendo aquela uma falha de conteúdo, leva à questão que me parece importante e que continuamente me salta à vista quando se discutem temas ambientais: a diminuta conexão destas análises com os hábitos e atitudes das pessoas.
É neste ponto que se encontra o contrassenso típico: o REA é um documento que reporta um diagnóstico, claramente produzido e promovido para chegar à população, e que tem, por isso, um papel crítico na construção de uma base de pensamento, mas que ao mesmo tempo apresenta um conteúdo que dificilmente se destina ao cidadão comum. Em boa verdade, nos restantes capítulos apenas as “águas balneares” poderão, eventualmente, captar o interesse do leitor.
Não digo que não seja importante avaliar o estado dos “nitratos de origem agrícola” e outros. O que me parece é que, sabendo que uma grande parte da política ambiental tem por base o progresso nas atitudes da população, os diagnósticos têm que ser complementados neste sentido. O investimento foi sempre educacional e no sentido de criar uma consciência global, caminho que eu acho que é o correto, mas facilmente se percebe que não tem efeitos imediatos.
Se o objetivo último é que as pessoas separem o lixo ou comprem produtos de origem biológica, não basta fazer um reporte isolado condenatório dos kg per capita e da pouca reciclagem que os portugueses fazem, tal como o foi apresentado no Dia do Ambiente. A análise também devia contemplar o diagnóstico das razões da detetada falta de interesse na reciclagem, ou o nível e tipo de vantagens e dificuldades que os produtores em modo biológico encontraram, que fez com que estas produções registassem uma área em expansão entre 2000-2007 e tivessem quase estagnado desde então.
Sou da opinião que as pessoas são globalmente sensíveis e refletem sobre a importância das questões ambientais, mas a falta de significância das atitudes de cada um não promove bons resultados, pelo que é premente atribuir-se-lhes esse valor. A realização anual do REA é uma oportunidade de alerta e promoção de mudança que deve ser assumida como tal, e não pode ser desperdiçada.