O problema de Rui Rio não são os críticos, os comentadores, os jornalistas e todos aqueles que, no PSD e fora dele, não se reveem no seu estilo de liderança e nas suas ideias para o país e para o partido. O problema de Rio é a sua incapacidade de ser um líder eficiente, isto é, de unir o partido e fazer com que ocupe o lugar que lhe cabe enquanto principal força da direita democrática em Portugal.

Esta incapacidade de Rio deve-se, acima de tudo, ao seu estilo de liderança.

Em primeiro lugar, Rui Rio age como se fosse dono do partido. Ao afastar os críticos e ao procurar impor uma linha de pensamento única, Rio renegou a sua tradição democrática. Enfraqueceu o PSD e foi o primeiro responsável pelo resultado do partido nas eleições do passado domingo, independentemente dos factores externos que mencionou no seu discurso na noite eleitoral, que mais parecia de vitória. Ortega y Gasset dizia que o Homem é o Homem e as suas circunstâncias. No caso de Rio, as circunstâncias não ajudaram a um melhor resultado nestas eleições, de facto, mas o Homem também não, devido à forma como escolheu, de forma livre e consciente, exercer a liderança do PSD.

Em segundo lugar, além de não valorizar o confronto de ideias no seio do PSD, Rio despreza o papel do jornalismo numa sociedade democrática, como se viu pela sua sugestão de levar a tribunal os jornalistas que publiquem notícias sobre processos em segredo de justiça. É inconcebível que o líder de um dos maiores partidos portugueses não compreenda que, com todas as suas falhas e limitações, o jornalismo independente é essencial para escrutinar os diferentes poderes, contribuindo assim para um país melhor governado. Não será essa a intenção de Rio – que simplesmente vê os jornalistas como “paus de microfone” a quem se deve dar instruções – mas a ‘lei da rolha’ que propôs transformaria Portugal num paraíso para os incompetentes e os corruptos. Os jornalistas portugueses podiam ser melhores, Dr. Rui Rio? É verdade. Mas os políticos também.

Poder-se-á argumentar que este é um problema do PSD e que o mundo continuará se o partido perder o lugar central que desempenhou nas últimas quatro décadas. Alguns até ficarão contentes com a erosão dos grandes partidos. Mas isto é uma ilusão. O nosso sistema democrático assenta em dois grandes partidos que funcionam como eixos de gravidade nos dois espetros ideológicos. Sem o PS e o PSD – ou novas formações que sejam capazes de os substituir – Portugal deixaria de ser governável. Basta imaginar como seria se o país fosse governado por coligações de pequenos partidos, incluindo os populistas e extremistas.