Segundo o modelo económico mais usado para prever a dinâmica da inflação (curva de Philips), o baixo desemprego nos EUA seria razão suficiente para que a inflação já tivesse subido mais. Mas esta tarda a fazê-lo.
Inflação baixa gera apreensão dentro do círculo de decisores da política monetária porque pode significar que a recuperação económica é mais frágil do que aparenta. Por outro lado, a má interpretação acerca do que se passa com a inflação pode levar a políticas monetárias erradas, que podem resultar em distorções de mercado indesejáveis.

Existem vários fatores que ajudam a justificar os atuais baixos níveis de inflação, mas na minha opinião existe um que merece atenção acrescida: a inovação tecnológica e a falta de aptidão dos trabalhadores para a receber. Segundo um estudo da consultora McKinsey durante a próxima década cerca de um terço dos trabalhos que existem hoje serão automatizados. Isso significa que um terço da população empregada hoje dificilmente está numa posição negocial confortável para exigir aumentos. Aumentos esses que são o principal canal inflacionário da economia.

A educação da população é um dos seus activos mais valiosos, mas à medida que o ritmo de inovação tecnológica acelera, mais rapidamente este activo se deprecia. Um conceito básico de contabilidade, mas que os decisores políticos (de política monetária e não só) ainda não abordam. A nossa geração tem provavelmente a mesma estrutura de formação que tinha a anterior (um curso superior para a vida), numa altura em que a tecnologia e a realidade (!) evoluem a um ritmo mais acelerado. O mercado laboral precisa de ser mais flexível não só de um ponto de vista legal/burocrático, mas principalmente de um ponto de vista de valências dos trabalhadores. Só assim é que estes conseguirão acompanhar a cada vez mais rápida inovação tecnológica, e exigir os aumentos salariais necessários para gerar alguma inflação.

A consequência deste cenário de inaptidão por parte dos trabalhadores para enfrentar o rápido desenvolvimento tecnológico, é que é improvável que a inflação nos países desenvolvidos suba de forma relevante nos próximos anos. E que qualquer pico inflacionário não deve ser encarado como persistente. Esta consequência leva a acreditar que as taxas de juro de referência dos principais bancos centrais se vão manter baixas durante mais tempo. Dada a fraca posição negocial da força laboral, é provável que uma subida excessiva das taxas tenha um impacto mais significativo que o normal no número de contratações/despedimentos. Um risco que os bancos centrais não irão querer correr, porque que taxas de inflação baixas não são motivo de instabilidade só por si. A inflação vai provavelmente ser tema chave para os mercados financeiros em 2018. Ter este cenário em mente, vai ajudar a navegar a volatilidade que possa daí advir.