Para aqueles que, como eu, encararam o resultado das eleições para a Ordem dos Advogados como a promessa de uma lufada de ar fresco, a desilusão foi inevitável. Contudo, o que estávamos longe de conseguir imaginar era que os vícios antigos nos seriam apresentados como públicas virtudes, como seja o de transformar o Boletim da Ordem num expediente de campanha eleitoral, recheado de meta-discursos com lugares comuns e um total vazio de ideias e, por consequência, de resultados. A par disto, vamos sendo confrontados com uma dança de cadeiras, em que surgem pessoas que não foram eleitas a substituírem outras, num verdadeiro movimento de alpinismo social, o que nos é justificado, pela voz do Bastonário, como correspondendo a “divórcios” que temos que “aceitar”.

Por mim, e com muita pena, o único divórcio a que assisto, impávida mas não serena, é o das ideias apresentadas antes das eleições e o praticado após as mesmas. A lista é interminável mas encabeçada pela ideia de tornar todas as demais profissões incompatíveis, excepto, muito significativamente, a de deputado.

A espuma dos dias passa mas na Ordem nada de relevante parece mudar, repetindo-se hábitos que se afirmou ir combater. Importa, a este título, que se relembre que as duas maiores urgências (direi mesmo emergências) eram, como são, a tabela de honorários dos patronos oficiosos e a CPAS.

Em ambos os casos, quase tudo permanece por alterar, resultando indigno que as preocupações expressas por quem nos representa sejam mais a extinção dos Tribunais Administrativos do que a circunstância da apresentação de umas alegações de recurso nesta jurisdição representar apenas cerca de cem euros brutos. Por outro lado, se é certo que existiram alterações nas contribuições da Caixa de Previdência, o que é certo é que, não apenas a injustiça do regime se mantém, como a auditoria que foi objecto de aprovação pelo Congresso continua no segredo dos deuses.

Acresce que, mesmo o que foi posto em prática na CPAS, deveu-se menos à acção daqueles que lá estão do que a um grupo de advogados que, na sua maior parte, desinteressadamente, tomaram uma luta de todos como sua e, mesmo com a oposição não declarada mas sentida do Conselho Geral, conseguiram fazer ouvir a sua voz. Se naquele dia todos fomos um Nuwanda, o trabalho hercúleo que permitiu o grito de revolta foi deles, mesmo chocando com a inércia dos que deviam cuidar de nós.

Muito provavelmente, as próximas eleições serão a derradeira oportunidade de a Ordem dos Advogados recuperar o seu papel de sempre e fazer o que há muito não é feito. Uma Ordem capaz de representar os seus membros e que não os desrespeite. Mais não se exige. Menos não se aceita.

A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.