O Euro 2020 começa hoje, a 11 de junho de 2021. Não me estou a queixar, estou contente que arranque um evento que me vai oferecer horas de entretenimento e, quiçá, com alguma sorte e competência, até o mesmo sabor de vitória que a inesquecível final de Paris nos trouxe em 2016.

A manutenção do ano passado no nome do torneio percebe-se pela lógica institucional, mas não deixa ser algo estranho e, principalmente, lembra-nos que ainda vivemos numa espécie de loop existencial, presos numa fase transitória da vida, entre a pandemia e o pós-pandemia.

A vida é sempre assim, o presente não é mais do que uma fase entre o que aconteceu e o que vem a seguir, mas há momentos em que isso nos parece mais relevante.

Para os habitantes de Lisboa, Braga, Vale de Cambra e Odemira, a travagem do desconfinamento é a prova disso mesmo. Satisfeitos com a marcha do regresso a uma certa ‘normalidade’, somos confrontados com a dura realidade: a pandemia ainda não foi embora e qualquer deslize coletivo ou individual pode resultar num revés que nos obriga a ficar presos no tempo. A medida é necessária, pois a batalha é longa e tem de ser gerida, mas prolonga este estado de limbo bizarro e frustrante que se sente em tantas áreas da nossa vida.

Na economia, por exemplo, os banqueiros centrais estão presos entre a retirada dos estímulos numa altura de franca recuperação e inflação e o medo de comprometerem a retoma, e de pôr os nervos dos agentes do mercado à prova. Os governantes, como o ministro das Finanças sublinha em entrevista ao Jornal Económico, têm a difícil tarefa de passar de medidas de emergência para medidas de recuperação.

No turismo e nos serviços, os donos das empresas têm de navegar não só as dinâmicas das regras internas mas também o pantone de cores que dita a chegada, ou não, de clientes externos.

A nível social, sente-se que as pessoas têm enormes dúvidas sobre como devem comportar-se nesta fase ‘do meio’. As regras e as recomendações existem, mas não impedem que nos questionemos com quem, onde e como devemos estar. Tal como no primeiro desconfinamento, existem mais dúvidas do que certezas.

Em termos de trabalho, muitos estão ainda na fronteira entre o ‘tele’ e o presencial. O futuro vai muito provavelmente trazer um mix dessas duas modalidades, mas tendo passado de uma para outra tão repentinamente e depois em casa durante tanto tempo, o regresso é fonte de ansiedade, especialmente por termos de nos adaptar novamente, agora a uma inédita versão híbrida.

A aceleração dos planos de vacinação é muito bem-vinda e os esforços dos que os organizam são louváveis, mas persistem dúvidas sobre a eficácia a médio prazo, especialmente quando ouvimos as palavras mais assustadoras da atualidade: ‘nova variante’.

Ao nível da política interna teremos pela frente, na rentrée, as renhidas e ruidosas lutas autárquicas e das negociações para a aprovação do Orçamento do Estado de 2022. Antes disso, porém, espera-nos um verão de gestão pandémica, tanto por parte dos políticos, como por cada um de nós, individualmente.

É transitório, sim, porque com confiança, organização e solidariedade, há de passar. As ferramentas, aliás, que a Seleção precisa para passar o ‘grupo da morte’ no Euro.