A integração europeia terminou com o isolamento económico de Portugal, abrindo espaço para reformas estruturais e institucionais. Nos últimos anos, houve quem considerasse que a integração europeia não tem trazido os benefícios que eram esperados para Portugal e, sobretudo, que o euro foi um condicionador do crescimento nacional.

Numa conjuntura marcada pela ascensão do euroceticismo, há quem aponte as fragilidades de crescimento luso como motivada exclusivamente aos desequilíbrios originados pela moeda única. Mas esta perceção é apenas parcial e enganadora sobre a realidade dos factos.

A realidade é que também existiram falhas em termos de decisões estratégicas estruturais desde a entrada no euro que colocaram Portugal em posição difícil assim que a conjuntura internacional se tornou complexa, e que ainda hoje não estão debeladas e representam desafios. Desde logo falhou o compromisso com um ciclo de consolidação fiscal, ao mesmo tempo que foi aumentando a despesa pública progressivamente via educação e benefícios de saúde, o que reduziu o espaço de manobra para lidar com ciclos de crise com medidas contracíclicas, e aumentou significativamente o peso do Estado na economia.

Num contexto de uma União Monetária, em que a política fiscal é o principal instrumento ao dispor do governo para lidar com os ciclos, Portugal poderia ter feito mais para aumentar a competitividade, sobretudo numa altura em que vivia já um ciclo final dos grandes investimentos em infraestruturas cofinanciados pela União Europeia.

A falha em reduzir o peso do Estado na economia, em prosseguir reformas estruturais e em assumir um maior compromisso de consolidação das contas públicas foram provavelmente os maiores responsáveis pela menor impetuosidade da economia desde o princípio do século e que impediu uma transição para uma economia com maior capacidade de valor acrescentado, e, consequentemente, capaz de oferecer melhores salários e rendimentos capazes de sustentar uma maior resiliência do consumo privado.

Vivemos num período de taxas de juro historicamente muito baixas, que disfarça muitas das fragilidades estruturais nacionais. O desafio atual é o mesmo do início da década. Importa retomar o ímpeto reformista de forma a elevar o nosso potencial de crescimento de médio prazo, que confira maior resiliência em ciclos económicos mais complexos.

O mundo está a transformar-se e, hoje, o aumento protecionismo é um fator que deve ser tido em conta por pequenas economias abertas como a portuguesa. E isso só pode ser feito com maior transformação estrutural da economia nacional, ainda que nem sempre seja uma opção popular.