Talvez este consenso generalizado fosse o melhor indicador de que tal iria realmente acontecer, mas isso é tema para outra discussão. Agora levantam-se duas questões: irá o euro continuar a valorizar face ao dólar? E poderá essa valorização pôr em causa a aceleração económica europeia?

Começando pela segunda questão, penso que não. As exportações foram um elemento crucial para despoletar a recuperação económica europeia, numa altura em que o sector financeiro se encontrava debilitado, o desemprego ainda alto e alguns Estados com dificuldades de financiamento. As exportações eram realmente o canal de estímulo económico mais desenpedido e funcionaram como uma faísca para uma recuperação económica que demorou a engrenar, mas que acabou por chegar. A desvalorização do euro durante o ano de 2015 foi um factor chave para que essa faísca acontecesse mas dois anos depois, o cenário económico já tomou outra forma. O sector financeiro já está bastante melhor capitalizado e numa fase avançada do seu processo de consolidação. O desemprego caiu para níveis em que o consumo já começa a ser um motor relevante do crescimento económico, e a maior parte dos Estados que há uns anos tinham problemas de financiamento já ponderam políticas de estímulos fiscais, mesmo que esse não seja o caminho mais desejado nalguns casos. Concluindo, as exportações já não são o único motor funcional na economia europeia. Esta tem agora pernas para andar, mesmo que as exportações sejam penalizadas por um euro mais caro.

No que toca ao euro-dólar, o raciocínio não é tão linear, principalmente se estivermos demasiado focados no curto prazo. No longo prazo podemos guiar-nos pelas teorias económicas que modelam os fluxos de capitais e comerciais entre duas regiões. O famoso Big Mac Index ajustado, construído pelo The Economist, é um exemplo de um indicador que fornece uma pequena pista acerca da avaliação de uma divisa face a outra de um ponto de vista comercial. O indicador é divulgado semestralmente e a última vez que foi divulgado (julho 2017) indicava que o euro se encontrava justamente avaliado face ao dólar. É importante no entanto perceber que qualquer indicador é insuficiente só por si, sendo preciso complementá-lo com outros. O diferencial de taxas de juro entre a região norte-americana e a europeia é um factor que tem um papel importante na direcção dos fluxos de capitais e por isso também deve ser tido em conta. Este diferencial continua perto de máximos de vários anos, e por isso a balança tenderá a pender a favor do dólar neste caso. Concluindo, de um ponto de vista comercial, o euro-dólar parece estar justamente avaliado – conclusão que não é só baseada no Big Mac Index ajustado logicamente – mas de um ponto de vista de fluxos de capitais, as taxas de juro norte-americanas deverão continuar a atrair mais capital, favorecendo o dólar. O equilíbrio entre os factores comerciais e os de capital determina a direção do par no longo prazo. No curto prazo, como dizia John Pierpont Morgan, fundador do banco de investimento JP Morgan, quando o questionavam sobre isso: acho que os mercados vão flutuar.