O mundo do desporto tem produzido incríveis exemplos de liderança. Líderes dentro de campo, como Cristiano Ronaldo, que pela excelência do seu desempenho, inspira toda uma modalidade. E líderes fora de campo, como Steve Hansen, treinador da seleção de râguebi da Nova Zelândia, que, pela forma como conduz a equipa, tornou-a na mais dominadora da história da modalidade.

Os grandes treinadores não são apenas tipos carismáticos que percebem de táticas e sabem escolher os melhores jogadores. Liderar uma equipa e levá-la a atingir objetivos é muito mais complexo do que isso.

Urban Meyer, um dos mais bem-sucedidos treinadores do campeonato universitário de futebol americano dos EUA, tem sido objeto de estudo pela forma como a sua liderança conduz as equipas ao sucesso. Embora já retirado, o seu legado perdura. No livro “The Motivational Techniques of Urban Meyer – a leadership Case Study of the Ohio State Buckeyes Football Head Coach” destacam-se quatro ideias-chave, válidas não apenas no mundo do desporto, mas em qualquer ecossistema: clareza de objetivos, confiança, responsabilização e aprendizagem contínua.

Além de objetivos claros para a equipa, e para cada um dos seus membros, numa equipa funcional tem que existir confiança. Confiança entre os seus membros e, sobretudo, no seu líder. Desde logo, a equipa tem que ver o líder como alguém com caráter. Alguém que diz a verdade, que cumpre a palavra dada e que trata os jogadores com respeito. Além disso, o líder tem que ser competente e a equipa tem que sentir que este sabe o que está a fazer. Finalmente, os membros da equipa têm que sentir que o líder se preocupa com eles e não apenas consigo próprio.

Meyer é ainda um adepto da responsabilização construtiva e do feedback verdadeiro. Todos os membros da equipa deverão conhecer os seus pontos fortes, saber o que fizeram bem e o que podem e devem melhorar. Ser honesto com um jogador é essencial para o tornar num ativo mais valioso. Segundo Meyer, a falta de feedback honesto é uma das principais causas de falhanço em equipas, empresas e indivíduos.

A quarta ideia-chave da liderança de Meyer, e talvez a mais importante, é a aprendizagem contínua. Urban Meyer foi sempre visto como alguém disponível para aprender constantemente com os outros e usar esses ensinamentos a seu favor e em prol da equipa. Alguma imprensa norte-americana descreve-o como melhor do que qualquer outro treinador a assimilar as ideias dos outros e a incorporá-las nas suas. Meyer procurou sempre adaptar-se e melhorar ideias, mesmo as que resultaram bem, e nunca se escusou a pedir a colaboração de especialistas em áreas específicas para ajudar as suas equipas a ter um melhor desempenho. Outros treinadores nunca abandonam as táticas que um dia os levaram ao sucesso e consideram-se autossuficientes, tornando-se, por isso, redundantes e ultrapassados.

Os grandes líderes, no mundo do desporto ou empresarial, seguem estas máximas. É impressionante ouvir Steve Hansen, depois de ganhar o campeonato de mundo de râguebi dizer “não há nada pior do que um vencedor arrogante. Não quero que equipa alguma a que esteja ligado seja vista como um vencedor arrogante. Temos que ser honestos connosco próprios enquanto grupo. Ter a coragem de perguntar o que é que não fizemos tão bem? O que vamos fazer acerca disso? Vamos reconhecer que tivemos sorte porque houve coisas que não fizemos tão bem? Vamos ver o que as outras equipas fazem melhor do que nós e tentar fazer como eles.”

Podia ter sido dito por Urban Meyer. Devia ser uma máxima transversal em qualquer ecossistema. Se até o líder dos All Blacks acha que tem espaço para continuar a melhorar e a aprender, o que dizer dos restantes…