Eu confesso sentir-me atordoada com as noticias dos últimos tempos … depois de termos assistido nos últimos anos a um discurso de contas certas, de cativações em áreas fundamentais, como a saúde e educação, na impossibilidade de se reduzirem impostos, de rigor nas despesas quando profissionais de saúde e professores pediam aumentos, descobrimos agora que querem esbanjar – só para início de conversa – 1.200 milhões de euros na TAP e que nacionalizámos a EFACEC … tá tudo maluco?
Ou existem 2 realidades distintas e eu estou na errada ou existe fanatismo sim mas do governo pelo empobrecimento do país!
Desde quando é que uma companhia de aviação tem de existir a qualquer custo? Ao longo dos tempos vi falirem companhias como a Varig, a SwissAir, a Sabena ou a Alitália e não tenho ideia nenhuma de que o Brasil, a Suiça, a Bélgica ou a Itália tenham sofrido qualquer revés com estes desaparecimentos.
Muitos números já apareceram a demonstrar que a TAP pouca expressão tem para além de Lisboa. Oiço muitos a falarem da importância da TPA para as comunidades portuguesas … a sério? Quando nem aos Açores podíamos ir porque os preços da TAP sempre foram pornográficos … estas ilhas, que são parte de Portugal, só ficaram acessíveis à maioria dos portugueses quando as companhias low-cost começaram a voar para lá porque a TAP, essa empresa tão relevante para os portugueses, nunca o permitiu!
O Estado tem de se preocupar é em garantir um serviço de qualidade e transversal a todos os portugueses nas áreas fundamentais – social, saúde e educação. Tem de se preocupar é com a independência e eficiência da Justiça. Tem de se preocupar em regular monopólios naturais. E tem de se preocupar em gerir as suas receitas, que mais não são que o dinheiro dos nossos impostos, com o máximo de rigor, seriedade e profissionalismo.
A TAP não cabe neste racional – porque é uma actividade puramente comercial, inserida num mercado concorrencial, que facilmente se ajusta a cobrir zonas geográficas que ficam disponíveis – mas porque os portugueses não têm sequer dinheiro para voar nela. Não têm e cada vez terão menos! O caminho que seguimos há anos é no sentido da pobreza. Logo no início da pandemia escrevi que assistiríamos a uma crise bem pior que a de 2008. Escrevo também que a TAP é um buraco bem maior que o Novo Banco.
Quando nos últimos 4 anos – repito, 4 anos – o Estado investiu 1.100 milhões de euros na saúde e na educação, vem agora garantir a “sobrevivência” da TAP com a injecção de 1.200 milhões de euros e um cheque de 55 milhões a um investidor privado que nunca vi preocupar-se com o estado de falência técnica em que a TAP está ou a forma de sair dela? O primeiro grande erro foi a reversão da privatização – que nunca percebi a não ser por este, aqui sim, fanatismo ideológico, que nos leva precipitadamente para a miséria. O 2º, foram erros de gestão. Aliás, em falência técnica, assistimos à distribuição de prémios chorudos pelos quadros da empresa – em Junho de 2019, distribuídos por 180 colaboradores, foram ao ar 1,171 milhões de euros! Numa coisa, a TAP e o Sr Neeleman estiveram sempre alinhados com o estado – nunca houve qualquer esforço para reestruturar a empresa e melhorar os seus indicadores. E, na realidade, para quê? Com o estado presente no capital, não tinha de se preocupar, sentia-se bem escudado. E agora ainda recebe um cheque de 55 milhões! Há gajos com sorte! Num país onde se premeia a incompetência, vamos cada vez atrair mais. O Pedro Nuno Santos até já disse que vamos procurar gestores internacionais para a TAP. Eu percebo. Ele vê os gestores portugueses à luz de si próprio e da classe politica reinante nos últimos 20 anos e nem se apercebe que há portugueses muito muito bons. E que tipicamente saiem do país…
Também oiço falar no desemprego que o encerramento da TAP provocaria e os custos que daí adviriam. Bom … tenho vários amigos na TAP e só lhes desejo o melhor mas não me posso centrar na arvore e não ver a floresta … a TAP tem quase 10.000 colaboradores. É um número brutal para acrescentar aos já desempregados mas o custo para o Estado de os manter na TAP é estupidamente superior. E os trabalhadores da TAP não podem ser mais importantes que os das muitas outras empresas, que não se chamam TAP, que faliram ou despediram em massa nos últimos anos. Mais ainda numa fase em que esses mesmos trabalhadores não vão mesmo ter trabalho – enquanto a aviação não voltar aos níveis dos anos anteriores, grande parte dos trabalhadores da TAP estarão em casa.
E também oiço falar dos fornecedores da TAP – estes então parecem-me mais óbvios ainda. Enquanto a TAP não voar em condições normais, eles serão afectados da mesma forma. Quando a aviação voltar aos níveis “normais” os seus produtos e serviços serão novamente procurados, senão pela TAP, por qualquer outra empresa que ocupou o espaço da TAP.
E por fim, temos a “guerra” entre aeroportos e linhas comerciais. Como o Estado, além de péssimo gestor, se vai preocupar é com os votos nas próximas eleições, vai privilegiar a simpatia em detrimento da rentabilidade pelo que já estou a ver a TAP a descobrir que Beja é, afinal, um aeroporto estratégico e que pode mesmo ser a alternativa a Lisboa, poupando-se o investimento no Montijo (mas deslocalizando-se o investimento para outro disparate qualquer). Vai voar para todo o canto onde haja votos, quer lá saber se a rota apresenta a rentabilidade desejável ou não.
Uma coisa parece-me certa – estes 1.200 milhões de euros vão ser o princípio do fim definitivo deste país à beira mar plantado.
Pela reacção do Pedro Nuno Santos parece-me já obvio que a oposição ao Governo só existe pela voz do João Cotrim Figueiredo, deputado único pela Iniciativa Liberal. A agressão no tom e conteúdo denotam a preocupação que Pedro Nuno Santos tem com a evolução que este novo partido na Assembleia possa ter. Toca-lhes nas feridas e isso incomoda. Ainda por cima, é educado, fala pausadamente, não se “enerva” nem perde o tom. Sendo aparentemente o único a preocupar-se com o destino dos nossos impostos, será bom que nos tornemos todos fanáticos. E de forma urgente. Por oposição ao fanatismo do PS, que nos conduz, sistematicamente, para a pobreza.