Pode parecer desadequado falar em final da pandemia quando, nesta mesma semana, foi batido mais um recorde mundial de casos diários. Uma nova vaga está a atingir em cheio países como o Brasil e a Índia, onde os sistemas de saúde já colapsaram. Nos Estados Unidos, as faixas etárias mais jovens, ainda não vacinadas, estão também a ser bastante afetadas. Por sua vez, na Europa, sobretudo a Leste, há pontos de descontrolo.
Mas os números também mostram um caminho para o “fim” da Covid-19: sim, as vacinas funcionam. Dados já estatisticamente relevantes mostram que, no Reino Unido, a incidência e mortalidade dos mais idosos é muitíssimo menor do que as dos mais jovens, os quais ainda não estão vacinados. São conhecidas algumas contingências logísticas, mas numa lógica de “economia de guerra” deveriam ser canalizados muito mais esforços para intensificar a vacinação. Pode parecer óbvio, mas não parece ainda haver uma consciência acerca da urgência e necessidade de seguir esta via a nível global.
Numa análise de risco-benefício, e tendo em conta a informação disponível, resulta clara a premência em vacinar rapidamente o maior número possível de pessoas, mas fazê-lo em todo o mundo. Não se trata apenas de tentar evitar mortes no curto prazo em cada país, mas de mitigar um dos maiores riscos latentes nesta altura. A proliferação do vírus em países muito populosos pode criar as condições ideais para o aparecimento de novas variantes para as quais as vacinas atuais não sejam eficazes. Isso significaria um enorme retrocesso para todos, desperdiçando os esforços feitos até agora. Deste modo, os países mais desenvolvidos (e vacinados) devem interiorizar que é do seu próprio interesse afetar recursos para que a vacinação dos países emergentes e em desenvolvimento aconteça o mais rapidamente possível.