As rivalidades globais aumentam, enquanto se tenta recriar uma nova Guerra Fria contra a China, com políticas de contenção e provocação. A Europa encontra-se em uma encruzilhada difícil: aceitar um papel secundário na nova ordem mundial ou reinventar-se como um ator independente, capaz de manter influência e relevância. A dependência histórica dos europeus na questão da defesa, especialmente em relação aos Estados Unidos, compromete sua soberania e é um dos desafios mais prementes.

Durante décadas, a Europa terceirizou sua segurança, confiando quase exclusivamente nos Estados Unidos. Embora essencial à sobrevivência durante a Guerra Fria, essa relação hoje representa um dos maiores obstáculos à autonomia estratégica europeia.

Atualmente, o continente é praticamente obrigado a gastar bilhões de euros anualmente para subsidiar a indústria de defesa norte-americana, em detrimento do fortalecimento de suas próprias capacidades. Com o retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, o gasto europeu em defesa certamente será um dos principais pontos da pauta bilateral. Este modelo, que perpetua a dependência, precisa ser urgentemente reformulado.

Como destacou Emmanuel Macron, em um alerta lúcido, embora impopular em alguns círculos: “A Europa não pode mais depender exclusivamente dos Estados Unidos para sua segurança. Cabe a nós assumir a responsabilidade pelo nosso futuro.” Para retomar a relevância global, a Europa precisa tomar medidas decisivas, particularmente superando traumas históricos e investindo em uma indústria de defesa própria e unificada, capaz de desenvolver tecnologia militar de ponta e garantir a segurança de seus flancos vulneráveis.

Além disso, é necessário reconstruir o engajamento estratégico com Moscou. O ostracismo imposto à Rússia tem sido um dos elementos que alimentaram a deplorável guerra na Ucrânia. Reaproximar-se e engajar Moscou em diálogo franco é fundamental para mitigar polarizações e prevenir novos conflitos.

A Europa também precisa evitar tratar a China como inimiga. Apesar das tensões comerciais e políticas, a China é um parceiro indispensável no desenvolvimento da economia global. Adotar uma posição equidistante no relacionamento com os Estados Unidos e a China pode proporcionar ganhos estratégicos significativos, especialmente nas áreas em que há interesses mútuos claros.

Em um mundo multipolar, a capacidade de equilibrar pragmatismo e autonomia será determinante para o futuro da Europa como ator global relevante. Como sabiamente afirmou Confúcio: “O homem que move montanhas começa carregando pequenas pedras.” Para alcançar plena autonomia econômica, tecnológica e militar, muitas pequenas pedras precisarão ser movidas, mas o esforço valerá a pena.