Os mercados financeiros tendem a antecipar a realidade económica. Foi assim em Março de 2020, quando as bolsas anteciparam uma recessão, e está a acontecer com o desconto de uma subida expressiva da inflação, ainda este ano.

O preço das matérias-primas continua a recuperar a um ritmo acelerado, com o preço do cobre a atingir máximos de 2012 ou o petróleo a superar os 60 usd por barril. Por seu turno, o preço dos bens agrícolas também atinge máximos de 2015, nomeadamente o milho, trigo ou soja. Esta inflação é uma má notícia para consumidores e empresas, principalmente quando a economia ainda não iniciou a sua recuperação.

Os consumidores são assim confrontados com o aumento da despesa, já que o preço dos produtos alimentares e da energia tende a subir. Por outro lado, grande parte do tecido empresarial, que ainda não retomou a sua actividade, será pressionado para aumentar salários, reduzindo a probabilidade de sobrevivência a longo prazo.

A entrada de muitos investidores no mercado de capitais, devido às taxas negativas e ampla liquidez, a par com a recuperação da China e à ação conjunta do cartel do petróleo, antecipam a normal evolução da inflação.

Os governos também começam a sentir a pressão da incerteza. Ao anteciparem uma subida da inflação, os investidores prevêem que os bancos centrais sejam mais activos e tenham de subir as taxas de juro antes do previsto. As taxas de juro a 10 anos nos EUA duplicaram em pouco mais de quatro meses, passando dos 0,65% para os 1,3%. Até a Europa iniciou a inversão das taxas de juro de longo prazo, com as taxas portuguesas a 10 anos a evoluírem do zero para 0,25% em três semanas, e as taxas alemãs a ficarem menos negativas.

O BCE e a FED terão de manter um discurso forte e prosseguir com os seus programas de compras de activos, para que as taxas de juro tenham uma evolução mais suave e permitam aos governos e empresas emitir dívida a custo nulo e financiar a recuperação económica.

Mas o fim do ciclo avizinha-se com impactos substanciais nos créditos à habitação a partir de 2024 ou 2025, dependendo da velocidade da recuperação.

Apesar de uma expectável correcção dos mercados financeiros, é normal que no início do ciclo de subidas das taxas de juro os mercados continuem animados, uma vez que estão sustentados pela recuperação económica e maiores ganhos das empresas. No entanto, o elevado nível de dívida mundial, que atingiu 281 triliões de dólares, após ter subido 24 triliões em 2020, ou 355% do PIB mundial, é um perigo para a estabilidade global.

Estando prevista a emissão de mais 10 triliões de dólares em dívida, é urgente iniciar a discussão de como sairemos deste ciclo de endividamento, tendo em conta que a subida de 1% dos juros a nível mundial terá um efeito desastroso, especialmente nas famílias.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.