Muitos são aqueles que acreditam que o fim dos tempos está próximo, só não havendo consenso relativamente à forma como o mesmo ocorrerá. Seja pelo impacto de um asteroide, pelo desenvolvimento de tecnologias com inteligência artificial que podem levar ao aparecimento de uma inteligência superior que extermine a humanidade, por uma erupção vulcânica, por uma crise ecológica global, pela má governação global, pelo colapso do sistema económico global, que gerará guerras civis e incumprimento generalizado de leis e tratados, por uma mudança climática extrema, por uma guerra nuclear, por uma pandemia global, com uma doença altamente contagiosa, letal e incurável, pelo desenvolvimento da engenharia genética que pode fazer surgir uma infeção sem cura ou uma doença que afete o ecossistema ou por qualquer outra causa, poucos acreditam que o Fim do Mundo não venha um dia a bater-nos à porta, restando saber se ele estará próximo ou se será um acontecimento longínquo, numa altura em que quem está a escrever este artigo e quem o lê já terá, há muito, deixado de habitar o Planeta Terra.
Quem estuda a Bíblia acredita que Sodoma e Gomorra foram duas cidades destruídas por Deus com fogo e/ou enxofre caídos do céu. Segundo o relato bíblico, as cidades e os seus habitantes foram destruídos por Deus devido à prática de atos imorais, não podendo os seus pecados ser mais tolerados por Deus. A destruição de Sodoma e Gomorra serve como exemplo da justiça de Deus, que é bondoso e paciente, mas impiedoso e castigador em situações de maldade extrema, sem arrependimento. Muitos acreditam que a destruição de Sodoma e Gomorra é um exemplo. Assim como Sodoma e Gomorra foram destruídas, um dia Deus trará castigo sobre todas as pessoas. Deus fará justiça. Os ímpios receberão aquilo que merecem, mas Deus também tem poder para proteger os justos, poupando aqueles que o amam e rejeitam o pecado que os rodeia. Para os crentes, o mundo está a aproximar-se perigosamente da destruição por ação divina, uma vez que o Homem é cada vez mais imoral e pecador e denota pouco arrependimento.
Há 82 anos atrás, o cineasta Orson Welles, utilizando a rede do Columbia Broadcasting System, fez o relato radiofónico da Guerra dos Mundos, em que dava nota de uma invasão alienígena com origem em Marte, que lançava o pânico na cidade de Grover’s Mill, no estado de Nova Jersey, onde máquinas de guerra gigantescas emitiam nuvens de fumaça venenosa.
Reportagens externas, entrevistas com testemunhas que simulavam assistir ao acontecimento, opiniões de peritos e autoridades, efeitos sonoros, sons ambientes, gritos, a emoção dos supostos repórteres e comentadores davam a impressão de que se trata de um relato fidedigno.
Na época, o programa foi ouvido por cerca de seis milhões de pessoas e mais de um milhão acreditou que se tratava de um facto real, o que gerou o pânico, sobrecarregando linhas telefónicas, provocando aglomerações nas ruas e congestionamentos causados por pessoas que, apavoradas, tentavam fugir do perigo.
O medo paralisou três cidades e houve pânico principalmente em localidades próximas a Nova Jersey, Houve fuga em massa e reações desesperadas de moradores em Newark e Nova Iorque.
Nos dias após a adaptação, os media pronunciaram-se contra o programa, mostrando uma indignação generalizada, classificando a transmissão como enganosa e geradora de pânico.
Intervenção divina e invasão de extraterrestres parecem atualmente preocupações menores face ao risco de uma pandemia global. Vem isto a propósito do recente Coronavírus, batizado pela Organização Mundial de Saúde como COVID-19, que, até à data, infetou mais de 90 mil pessoas e causado pouco mais de três mil mortos, alastrando um pouco por toda a parte. Se os coronavírus (CoV) estão longe de ser uma novidade, alguns podem causar síndromes respiratórias graves, como aconteceu com a SARS, com a MERS e com o COVID 19.
Mais do que a possibilidade do COVID 19 levar ao fim do mundo, já que a taxa de mortalidade do mesmo é extremamente baixa (cerca de 3%) e que os países mais desenvolvidos, mais cedo ou mais tarde, descobrirão uma cura para o mesmo e desenvolverão uma vacina capaz de impedir a sua transmissão, este é um sinal de que a Humanidade não está preparada para tudo o que a natureza ou a intervenção humana podem causar.
O pânico que se tem gerado em torno de um vírus que até a data infetou cerca de 0,00001% da população mundial é mais perigoso em si do que o próprio vírus, causando certamente mais prejuízos, quer humanos, quer económicos (e, por inerência, humanos) do que a síndrome respiratória.
O açambarcamento de bens de primeira necessidade, o cancelamento de eventos, as rixas que têm por destinatários todos os que potencialmente podem ser portadores do vírus e o pânico coletivo são um enorme risco para a Humanidade. Não queremos com isto disser que não devamos estar atentos e vigilantes, que não devamos tomar as devidas precauções, mas o racionalismo deve superar o medo injustificado, sob pena de podermos assistir a uma paralisação da economia internacional e das sociedades modernas, capaz de nos fazer entrar num estado de hibernação que causará muitas mais mortes do que o COVID 19.
Se não é desta certamente que regressaremos à Idade Média, é importante que saibamos adotar uma mentalidade progressista capaz de nos proteger contras as trevas em que o pânico coletivo nos parece querer fazer mergulhar.