Desde o surto inflacionista de 2021/2022 que paira no ar a questão: quando irá a economia portuguesa recuperar? Do INE vieram finalmente as boas notícias – os salários médios reais estão já acima dos níveis de 2021, ainda que o seu crescimento tenha sido modesto.
Em junho de 2024, o salário médio bruto real excedia o de junho de 2021 em cerca de 1,5%. Este ligeiro aumento revela uma economia que, apesar das suas fragilidades, conseguiu resistir à tempestade da inflação.
A recuperação será o resultado de alguma capacidade de adaptação do mercado de trabalho, mas também das medidas adotadas, ainda pelo governo anterior, para contrariar o impacto da inflação.
Ora, estes dados parecem contrastar com a ideia que vem sendo divulgada pela comunicação social de que terá havido uma fuga de portugueses dos seus destinos de férias tradicionais, nomeadamente do Algarve, em resultado do aumento dos preços do alojamento, da restauração e dos serviços que aí são praticados.
Se esta aparente contradição revela a distribuição desigual das pressões inflacionistas pelo território, também aponta o turismo como um catalisador da subida de preços. Mas deve especialmente fazer-nos refletir sobre as consequências do crescimento deste sector, quer para a recuperação do poder de compra, quer para a dinâmica das economias locais.
E, como se não bastasse que o crescimento dos salários reais fosse ligeiro e atreito a enviesamentos, eis que surge uma nova ameaça – o eventual aumento dos preços da gasolina e do gasóleo. Isto porque a Comissão Europeia tem pressionado o Governo português para que elimine os subsídios públicos aos combustíveis fósseis que foram introduzidos como medida de combate à inflação.
O impacto, segundo o “Expresso”, poderá ser a subida dos preços dos combustíveis acima dos dois euros por litro, corroendo os ganhos conquistados nos salários reais. E terá ainda um efeito em cascata, dilatando os custos de transporte e, assim, os preços dos bens e serviços em geral.
Também é possível perspetivar as consequências inflacionistas que terá sobre o turismo, um setor extremamente dependente de combustíveis, bem como o seu potencial arrastamento.
No fundo, os dados evidenciam o enorme desequilíbrio a que a economia portuguesa está vetada, com o crescimento preso por arames a um setor dinâmico, mas volátil e, no qual, as externalidades negativas parecem querer exceder as positivas, sendo a evolução dos preços uma das suas manifestações mais preocupantes.
É desta que paramos e avaliamos o custo deste frenesim?