Um inquérito recente aos cidadãos europeus divulgado pelo Eurobarómetro chegou a um resultado desolador para Portugal, ainda para mais numa altura em que desempenhamos as funções associadas à presidência da União Europeia. Nesse inquérito, o primeiro a ser elaborado em conjunto pelo Parlamento Europeu e a Comissão Europeia, os portugueses surgem em último lugar no que toca ao eventual interesse em participar na “Conferência sobre o Futuro da Europa”, cuja cerimónia de assinatura da declaração conjunta teve lugar esta semana.
A conferência deverá ter um ato simbólico de lançamento em maio próximo, em Estrasburgo, e durará previsivelmente até à primavera de 2022. A intenção foi a criação de um novo fórum público pela UE no sentido de potenciar um debate aberto, inclusivo, transparente e estruturado com os europeus, em torno das questões que são importantes para nós e afetam a nossa vida quotidiana. Infelizmente, só 8% dos portugueses inquiridos afirmaram estar “definitivamente interessados” em participar.
De acordo com o inquérito referido, seis em cada dez europeus concordam que a crise da Covid-19 os fez refletir sobre o futuro da União Europeia e, quando convidados a escolher os desenvolvimentos que desejam para o futuro da Europa, privilegiam ter “níveis de vida comparáveis (35%) e uma solidariedade mais forte entre os Estados-membros (30%)”, para além do desenvolvimento de uma política de saúde comum (25%) e de padrões de educação comparáveis (22%).
Mais uma vez, o inquérito revela a importância dada pelos europeus ao combate contra as alterações climáticas, vistas por 45% dos cidadãos como o principal desafio a afetar o futuro da UE, à frente do terrorismo (38%) e dos riscos relacionados com a saúde (37%). Aliás, no que toca às alterações climáticas, é bom lembrar que – segundo a União Europeia – as perdas económicas devido a condições climáticas extremas mais frequentes já ultrapassam os 12 mil milhões de euros por ano.
Segundo um relatório: “As estimativas mais conservadoras mostram que expor a economia da UE de hoje a um aquecimento global de 3ºC acima dos níveis pré-industriais resultaria numa perda anual de pelo menos 170 mil milhões de euros”. Isto, claro, para além de outros enormes custos ao nível social e de saúde dos europeus.
A expectativa, agora, é a de que os contributos a enviar pelos cidadãos ao longo do período de existência desta Conferência sejam analisados e debatidos de forma a suscitarem consequências e alterações concretas na adequação do funcionamento das instituições financeiras àquilo que é a vida concreta dos europeus.
O envolvimento de cada um de nós no processo europeu será cada vez mais relevante e significativo no futuro. Não apenas na mencionada Conferência sobre o Futuro da Europa, mas também em consultas públicas decisivas para o nosso desenvolvimento comum, como a que atualmente decorre para o Livro Verde sobre o envelhecimento populacional e as suas consequências ao nível demográfico. A nossa participação é um dever de cidadania. E, como dizia Delors: “O modelo europeu estará em perigo quando obliterarmos o princípio da responsabilidade pessoal”.
Juntamente com Auriol Dongmo e Pedro Pichardo, a triplista do Sporting Patrícia Mamona garantiu a terceira medalha de ouro para Portugal no recente campeonato europeu de atletismo em pista coberta. Os três atletas estão de parabéns. Não só pelo enorme esforço desenvolvido durante estas provas mas também durante os treinos, em altura de pandemia. Para eles o meu reconhecimento pela sua perseverança e pelas marcas alcançadas.
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