A indústria de papel e cartão não vai desaparecer tão cedo como muitos poderiam pensar. A procura mundial de papel e cartão que representou 408 milhões de toneladas em 2021 espera-se que atinja os 476 milhões em 2030. Até essa data a percentagem de cartão que agora representa mais de 50% irá continuar progressivamente a crescer.

Os avanços tecnológicos da era moderna estão a estimular a diminuição de consumo de papéis tradicionais de impressão e escrita e também de papel de jornal. O e-commerce ao contrário tem-se traduzido no aumento de consumo de cartão e na necessidade de embalagens mais flexíveis, compactas e inteligentes. Isto quer dizer que a indústria está de boa saúde. Haverá uma diminuição de procura de papéis convencionais que será mais que compensada com o aumento de consumo de cartão, de papel tissue e papéis especiais que surgirão para substituir o plástico.

Como estão as companhias do setor a adaptar-se a esta evolução de mercado?

Em 2009 o grupo finlandês UPM-Kymene, líder europeu na produção de papel, tinha mais de 60% da sua produção dedicada a esse produto. Atualmente é uma empresa altamente diversificada em que apenas 33% das suas receitas provêm do papel.

O processo de transformação da sueco-finlandesa StoraEnso, empresa com dimensão equivalente à UPM, ainda tem sido mais significativo. As receitas provenientes do papel que significavam em 2006 mais de 70% das suas vendas o ano passado não ultrapassaram os 16%.

A empresa afirma hoje de uma forma clara que vai abandonar o negócio de papel tradicional e que tem como objetivo que em 2030 o negócio de packaging represente mais de 60% das suas receitas. O líder mundial International Paper também decidiu dedicar-se à produção de produtos de embalagem tendo feito um spin-off da sua divisão de papéis (agora designada Sylvamo) e mantendo nesta apenas uma participação de 20%.

Como estão as companhias do setor a adaptar-se a esta evolução de mercado?

Em 2009, o grupo finlandês UPM-Kymene, líder europeu na produção de papel, tinha mais de 60% da sua produção dedicada a esse produto. Atualmente é uma empresa altamente diversificada, em que apenas 33% das suas receitas provêm do papel.

O processo de transformação da sueco-finlandesa StoraEnso, empresa com dimensão equivalente à UPM, ainda tem sido mais significativo. As receitas provenientes do papel, que representavam em 2006 mais de 70% das suas vendas, o ano passado não ultrapassaram os 16%. A empresa afirma hoje de uma forma clara que vai abandonar o negócio de papel tradicional e definiu como objetivo que em 2030 o negócio de packaging represente mais de 60% das suas receitas.

O setor do papel e embalagem em Portugal

A indústria de pasta e papel em Portugal é um benchmark a nível europeu e mundial. O setor do papel e embalagem é bastante mais importante do que geralmente se pensa, pois representa mais de 1,5% do PIB nacional e 2,5 mil milhões de euros de exportações de acordo com a Biond – Associação Portuguesa da Indústria Papeleira.

Portugal é o terceiro produtor europeu de pasta química e líder europeu na produção de papel não revestido. E, para além de ter a importância que tem, é constituído por algumas empresas de relevância tanto a nível nacional como internacional como é o caso da The Navigator Company, Altri, Renova ou Inapa entre outras.

Altri

Empresa líder na produção de pasta química produz 1,1 milhões de toneladas em três fábricas, das quais duas estão dedicadas à pasta química e outra à pasta viscose de aplicação no sector têxtil. A Altri desde 2010 mais do que duplicou as suas receitas passando de 507 milhões para 1.126 milhões no ano passado conseguindo um Ebitda médio de 25,7%. Nesse período aumentou a sua capacidade produtiva em cerca de 30% com investimentos constantes nas suas três fábricas.

O seu concorrente, a vizinha, Ence no mesmo intervalo de tempo não conseguiu melhorar receitas de certa forma motivadas pelo fecho da fábrica de Huelva em 2014. O seu Ebitda médio foi de 20,7%.

A Altri dentro do seu plano de desenvolvimento anunciou um projeto green-field de uma fábrica de pasta na Galiza com capacidade de produzir 200.000 tons de pasta solúvel para abastecer o sector têxtil do qual se encontra próximo. Também tem um projeto para construir uma unidade de produção de fibra têxtil de 100.000 tons na Galiza.

Através da sua divisão Greenvolt está ativamente a investir em energias renováveis tendo já 5 centrais de biomassa com uma potência instalada de 96,7 MWH e produzindo anualmente mais de 720 GWh. Acaba de comprar uma central de biomassa em Inglaterra próximo de Londres, tendo também em carteira projetos na Polónia e Grécia. Exemplo de uma empresa discreta, de que pouco se fala, mas que se desenvolve com objetivos e estratégia bem definida de crescimento e diversificação.

The Navigator Company

Uma das melhores empresas nacionais que contribui com mais de 3% para as exportações de Portugal e de 0,7% para o PIB nacional. A Navigator navega em resultados ímpares na indústria com Ebitdas acima de 30% quando o seu principal concorrente europeu a Mondi não consegue mais de 20% na sua divisão papel.

A incógnita para este grupo será a evolução do consumo de papel não revestido e também de que forma a evolução do mundo digital e de outros fatores poderão afetar o consumo deste tipo de papel. No entanto o papel não revestido é a família de papéis de impressão e escrita que mostra a melhor resiliência sendo a única que cresce. Nos últimos dez anos cresceu a um ritmo anual de 1% e espera-se que até 2030 tenha a mesma evolução.

A Navigator lançou-se em 2015 num processo de diversificação na área do papel tissue ao adquirir a fábrica AMS em Vila Velha do Rodão. O sector da higiene é um setor que tem condições para crescer mais que o papel não revestido pelo que este é um passo estratégico lógico. Também porque possibilita uma vantagem competitiva para a Navigator que é poder utilizar parte das 300.000 toneladas de pasta que tem disponível para venda ao mercado.

No entanto o negócio de tissue está consideravelmente saturado com muitos intervenientes e com novas capacidades recentemente disponibilizadas na península Ibérica como é o caso dos italianos da Sofidel e da ICT.

É de salientar que a Navigator tem tido uma grande oportunidade de continuar de reforçar a sua participação de mercado em consequência das significativas movimentações ocorridas desde o ano passado com os seus principais competidores.

A Stora Enso encerrou no terceiro trimestre de 2021 a sua fábrica de Veitsiluoto na Finlância removendo do mercado 530.000 tons de papel não revestido. A americana International Paper vendeu a sua fábrica de Kwidzyn na Polónia. Com a invasão da Ucrânia, a Mondi decidiu abandonar as suas operações na Rússia nomeadamente na sua fábrica de Syktyvkar.

A sul africana Sappi, líder europeu na produção de papeis de impressão e escrita acaba de anunciar a venda da fábrica de Stockstadt na Alemanha.

A Navigator tornou-se numa empresa incontornável no seu sector mas que convém não continuar a estar tão dependente do papel não revestido.

O grupo Mondi que tinha há 10 anos uma dependência de 24% no negócio de papel tem agora apenas 11,5% depois do recente desinvestimento na Rússia.

Inapa

É o maior grupo de distribuição de papel na Europa Ocidental. Ultimamente melhorou consideravelmente os resultados fruto da situação de mercado e da oportunidade única de aumentar os preços por falta de produto. Tem conseguido diminuir paulatinamente a sua dívida nos últimos anos. Desde 2015 reduziu a sua dívida em 16% apesar dos investimentos realizados.

Não existe muita informação no mercado que permita comparar a Inapa com os seus concorrentes porque as empresas deste setor não estão cotadas em bolsa. No entanto podemos encontrar uma referência interessante na distribuidora Europapier que pertence ao grupo industrial austríaco Heinzel.

A Europapier desenvolve as suas atividades na Europa do Leste e curiosamente conseguiu nos anos de 2020 e 2021 obter Ebitdas ao mesmo nível que os da Inapa. No entanto a Inapa para obter estes resultados necessitou de vender quase mais 70% de papel que a Europapier.

Se tomamos os dados do grupo em 2015 precisamente antes de se realizarem as grandes aquisições de França e Alemanha a Inapa tinha receitas de 881 milhões de euros. O resultado atual dessas aquisições traduziu-se em 2021 em receitas adicionais de apenas 83,6 milhões de euros e num decrescimento de 6,8% nas receitas provenientes dos negócios diferenciados.

Outra referência interessante é o OptiGroup outro grupo de distribuição que opera no centro e norte da Europa e que foi o mesmo que vendeu à Inapa em 2016 o seu negócio de papel em França e em 2019 o negócio gráfico na Alemanha. Tiveram no ano passado receitas de 1,067 milhões de euros e conseguiram um Ebitda de 5,5%.

O objetivo deste grupo é dual, diminuir por um lado a atividade tradicional de distribuição de papel e por outro desenvolver agressivamente novos negócios através de uma política ativa de aquisições. Só no ano passado adquiriram cinco novas empresas.

Se virmos a sua estrutura organizativa têm no seu comité executivo um responsável por fusões e aquisições e outros três responsáveis por cada uma das grandes famílias de negócio. Uma organização deste tipo potencia o desenvolvimento de um grupo de distribuição de papel como a Inapa ao diminuir a elevada dependência no papel revestido, com a procura em queda livre.

O peso do negócio alemão representando mais de 65% (em 2010 representava 52%) das receitas também é demasiado grande para um grupo que tem o seu comando em Lisboa.

A melhoria de resultados da Inapa é uma excelente notícia para o mercado que poderá ser aproveitada pela empresa para acelerar o seu processo de diversificação e fortalecer o seu portfolio de fornecedores. Tem capacidade para poder adquirir outros negócios de distribuição que lhe permitam rentabilizar ao máximo a sua grande capacidade logística na Europa Ocidental.