Todos aqueles que hoje têm 50 ou mais anos, acompanharam in loco a transformação das agências bancárias. E esse acompanhamento foi tríptico: pela evolução estrutural (configuração física das agências); pela crescente disponibilidade dos serviços prestados e dos produtos postos à sua disposição e pela informação disponível.

Mas não fará sentido analisar o futuro das agências bancárias sem perceber e interpretar os três grandes segmentos de clientes de qualquer banco: as grandes empresas (GE), as pequenas e médias empresas (PME) e o retalho (clientes particulares). Tal configura-se e compagina-se de transcendente importância, porquanto cada segmento apresenta necessidades específicas.

No caso das GE a existência (ou não) da agência não tem qualquer interesse, uma vez que todas as linhas financeiras de envolvimento com o banco são negociadas pela ida do banco à empresa ou vice-versa.

Já no que diz respeito às PME a situação é diferenciada. Diria que as maiores dentro deste segmento acabam por ter um tratamento muito semelhante ao segmento referenciado anteriormente. No que concerne à sua esmagadora maioria, a agência, ou balcão, acaba por ser o suporte para a sua actividade diária – desde os depósitos, pequenos financiamentos por curto prazo e apoio de tesouraria (livranças), descontos comerciais (letras) e outras facilidades que são resolvidas a nível da agência.

No segmento do retalho, as coisas são completamente diferentes. A agência é o verdadeiro suporte para os clientes particulares.

É de todos conhecido que, desde meados da década de 90, e aproveitando o advento das ATM (vulgo Multibanco), a banca aproveitou para desviar da agência aquele tráfego que tinha principalmente a ver com fluxos de caixa (levantamentos e depósitos). Desta forma, o número de efectivos por agência diminuiu consideravelmente, mas a banca, em vez de reencaminhar esses recursos para outras actividades, acabou por prescindir de grande parte deles (reformas ou rescisões de contratos) – embora a “purga” tenha continuado até aos dias de hoje.

Não obstante toda a banca ter desenvolvido um conjunto de aplicações informáticas que permitem aos seus clientes fazer um grande número de operações, em qualquer dia e a qualquer hora, a agência ainda é a âncora para os clientes do retalho. Aliás, existem certos produtos dirigidos de forma privilegiada para o retalho que, devido à sua complexidade, a ajuda de um colaborador na agência torna-se muito importante. Refiro-me, por exemplo, ao crédito hipotecário (em todas as suas envolvências – contratação, amortização antecipada, negociação, etc.) e ao crédito automóvel, só para citar dois produtos.

Assim, acredito que as agências bancárias nunca se irão finar. Pelo contrário, ir-se-ão adaptando às novas realidades e acompanhando tendências e necessidades dos clientes bancários. Para tal, terão que ter sempre em conta os seguintes vectores: maior competitividade interna/externa; maior dinâmica comercial; tendência crescente para a centralização nos serviços centrais de tarefas administrativas; acompanhamento cada vez com maior dinâmica de todos os clientes em geral e dos mais rentáveis em particular; partilha com outros canais de distribuição de produtos e serviços.

Aqueles, mais liberais, que já auguravam o fim das agências bancárias que se desiludam, porque não irá ser nos anos mais próximos (50 anos) que tal irá acontecer. Haverá um inevitável ajustamento ao negócio, aos produtos e aos serviços, mas a agência estará sempre lá (acredito que cada vez com menos colaboradores), para ajudar todos os clientes, em particular aqueles que anteriormente referi como target da agência.

Como recordatória para aqueles mais apegados às novas tecnologias, refiro as agências totalmente automáticas que tiveram o seu primeiro aparecimento na década de 80 em França, e depois também em Portugal pela mão de um banco que hoje já não existe e que, tanto em França como em Portugal, acabaram por encerrar. E não foi por obra do acaso!

O autor escreve de acordo coma a antiga ortografia.