Em 2023, a China superou o Japão, tornando-se o maior exportador mundial de automóveis, este fenómeno aconteceu em parte suportado no facto de a China ter vindo a solidificar, nos últimos anos, o seu crescimento na indústria de veículos elétricos. Empresas chinesas como a BYD não só superaram concorrentes tradicionais como a Tesla em vendas no mercado interno, mas também se destacaram no mercado externo, tendo a BYD demonstrado o seu dinamismo ao vender 526.409 unidades no último trimestre de 2023, ultrapassando a Tesla, que registou apenas 484.507 unidades vendidas.
Um dos segredos do sucesso chinês foi a implementação de políticas de subsídios em grandes centros urbanos, incentivando a adoção de veículos elétricos o que melhorou o desempenho das baterias em condições reais de uso. A par com esta aposta, a segunda maior economia do mundo, focou-se no desenvolvimento da tecnologia das baterias, associada a uma rápida prospeção de matérias-primas essenciais, como terras raras, o que a colocou na vanguarda da cadeia de suprimentos de baterias, crucial para os veículos elétricos.
Em resposta ao sucesso chinês na exportação de carros elétricos para a Europa, a União Europeia (UE) decidiu impor tarifas sobre veículos elétricos provenientes da China, desencadeando um debate acalorado sobre os limites do protecionismo num mundo que todos achávamos seria cada vez mais globalizado. A medida, que entrará em vigor provisoriamente em julho e de forma definitiva em novembro deste ano, é uma resposta direta às práticas de subsídios que Bruxelas considera injustas e prejudiciais aos fabricantes europeus. Não esquecer que a indústria automóvel europeia, emprega direta e indiretamente mais de 13 milhões de pessoas.
A China condenou de imediato esta medida, classificando-a como protecionista e alertando para os possíveis impactos negativos, especialmente para as marcas europeias que exportam para a China. Pequim sinalizou que poderia adotar medidas retaliatórias. Embora a medida da UE possa combater práticas concorrenciais desiguais, ela não agradou a todos os países da União, tendo a Alemanha expressado preocupações de que essas medidas possam prejudicar suas próprias empresas e no sentido contrário a França sustentado esta decisão como necessária para garantir uma concorrência justa.
Recordemos que os fabricantes alemães têm o mercado chinês como um dos principais para as suas exportações, ao contrário das marcas francesas em que este mercado é muito menos relevante.
Se, por um lado, os fabricantes chineses conseguiram criar condições tecnológicas para assumirem uma posição de liderança no mercado dos veículos elétricos, por outro lado os fabricantes europeus enfrentam desafios importantes como sejam, a falta de uma infraestrutura de carregamento robusta, dependência de importações de matérias-primas essenciais e políticas de incentivo e subsídios que variam amplamente entre os Estados-membros, criando um mercado fragmentado que dificulta a adoção generalizada de veículos elétricos.
No entanto, o sucesso futuro da China no mercado de carros elétricos dependerá da sua capacidade de expandir-se internacionalmente e de adaptar-se a novos mercados e regulamentações, pelo que a imposição de tarifas pela UE representa um revés significativo no complexo panorama das relações comerciais globais.
Com um setor automóvel global em rápida transformação, a coordenação internacional e o diálogo multilateral serão cruciais para mitigar as tensões comerciais e promover um ambiente de comércio justo e sustentável. A resolução destes conflitos será um teste para as relações UE-China e para a governança global num contexto de desafios ambientais crescentes e transição energética acelerada.
O dilema entre globalização ou protecionismo levanta a questão: queremos manter um mundo globalizado que permita o crescimento económico e tire milhões de cidadãos da pobreza, conforme aconteceu nos últimos anos, ou optamos pelo protecionismo? Neste cenário de rápidas mudanças, a escolha entre globalização ou protecionismo não se vai limitar ao futuro da indústria automóvel, mas de toda a economia global, acelerando ou travando a trajetória do desenvolvimento económico global.