O nível de assimetrias regionais que Portugal apresenta não é próprio de um país desenvolvido, mas sim de um país deprimido, face à triste realidade do envelhecimento acentuado da população, do fraco dinamismo empresarial, da vulnerabilidade dos solos e florestas e da desertificação de vastas zonas rurais.

E não é possível falar de coesão territorial sem abordar uma atividade milenar, presente em todo o nosso território, cuja importância extravasa, e muito, a questão económica e social. Falar de coesão territorial é mergulhar no mundo rural e na nossa subsistência agrícola – da sua multifuncionalidade, que é hoje alvo de inúmeras críticas depreciativas, infundadas, profundamente injustas e perigosas.

Injustas porque a associam a más práticas ambientais, ignorando o enorme salto tecnológico do setor nas últimas décadas. Perigosas porque representam o crescimento de doutrinas desprovidas da realidade e das nossas raízes sociais, sem qualquer ligação ao território, potenciando o risco de abandono agrícola.

Num país onde o défice agroalimentar com o exterior é de 3,5 mil milhões de euros, a rutura social e ambiental que os territórios terão, se não se apostar num setor agrícola e florestal forte, é um fator decisivo da soberania nacional.

A aposta na agricultura nacional é, assim, primordial e fator de modernidade e sustentabilidade, que permite, também, a atração de turismo de qualidade e a geração de riqueza nacional e emprego descentralizado.

Mas a intolerância para com o mundo rural é hoje um risco enorme para a política de coesão. Não podemos ambicionar um território mais justo, mais equilibrado, mais solidário, sem políticas públicas integradoras e potenciadoras das diversas regiões e amigas do ambiente e do território.

É necessário lutar por um território mais coeso, socialmente equilibrado e ambientalmente sustentável, com defesa da valorização e da revitalização do espaço rural, com um sistema produtivo forte, dinâmico e produtivo. E com pessoas no território.

Mas é aqui que também reside o maior dos problemas. Se não encararmos o país como um todo – pois Portugal não é só Lisboa e Porto, Norte ou Sul, Litoral ou Interior, zonas montanhosas e planícies – não se conseguirá efetuar a coesão urgente e necessária, para que se possa criar rendimento e poder de compra aos cidadãos.

Eu sou oriundo do Alto Minho, de Viana do Castelo, um concelho de litoral com caraterísticas de interioridade, desde logo ao ser a última (20º) Capital de Distrito, com menor poder de compra de Portugal.

E isso deve-se, precisamente, porque na ausência de políticas locais, de coesão territorial nas últimas décadas, se abandonou o setor primário como fonte de riqueza e se promoveu a desertificação rural, entre muitas outras razões.

Defender o mundo rural e potenciar o desenvolvimento regional, é muito mais do que um desafio, é um verdadeiro desígnio nacional, que alavanca também a gastronomia como uma fonte de riqueza e forte potencial turístico. Haja coragem política, perante tamanha tentativa de centralização e excessiva concentração que se assiste na ação deste Governo. Haja coragem e urgência para agir.