Na história do dinamarquês, só quando uma criança grita “o Rei vai nu!” é que o monarca apercebe-se da tramóia, mas ainda prolonga a procissão.
O ‘conto’ dos empréstimos ruinosos da Caixa Geral de Depósitos e do papel do atual governador do Banco de Portugal faz lembrar esta antiga história infantil. Não sabemos se Carlos Costa participou ou não na tomada de decisões para conceder valores avultados a empresários, que podem não ser vigaristas como os alfaiates do conto, mas são (no mínimo) pessoas com perfil creditício duvidoso, como se veio provar. O próprio Governador diz que não. Mas o problema é que, dados os mecanismos atuais, não vamos poder verificar isso na instância natural, pois como o JE_noticiou na semana passada, Carlos Costa vai escapar aos testes de idoneidade aos ex-gestores da CGD.
Essa incapacidade de verificação deixa o Governador despido de uma defesa sólida, algo que poderá afetar a percepção interna e externa da instituição que lidera.
Esta semana vimos vários atores políticos emitir o alerta. Se um dos três inquéritos (do Ministério Público, do Governo ou do Parlamento) concluir que Carlos Costa participou nas decisões ruinosas, deve sair pelo próprio pé.
Por enquanto, tal como o Rei no conto de Andersen, apesar dos alertas, o Governador não abandona a procissão.