(Ou, pelo menos, um certo grito contra uma nova forma de autoritarismo)

Venho de uma geração em que a preocupação ecológica não constava ainda dos programas eleitorais, em que ainda se fumava em sítios públicos, escolas incluídas, e em cujos bares se compravam chocolates, refrigerantes e pastilhas elásticas como se não houvesse amanhã.

Entretanto, tudo evoluiu e fomos sendo, penso que bem, compelidos a ter mais preocupações com o ambiente e com os demais seres vivos. Até aqui tudo muito certo, até porque, sendo a típica habitante de cidade, sempre gostei de animais.

Não desconhecendo que posso vir a despertar a fúria dos vegans e afins, dessa consciencialização (que creio estar certa), passámos agora para uma tentativa de imposição de hábitos, em que os ditos animais, sejam eles de companhia ou não, são objecto de maior atenção do que os humanos. E, daí, para uma nova ideologia que se visa parametrizar todos dentro das apertadas regras do politicamente correcto.

Aparentemente mais importante do que a ética entre pessoas, agora o que releva é sermos “o mais verde possível”, clubes à parte. Se posso concordar com o destino a dar às beatas (fumadora me confesso…), já não concebo que um partido procure obrigar-me a usar copos menstruais ou retire um medicamento do mercado, não porque me faça mal, mas porque os bichos que irão comer os meus restos mortais podem ficar afectados.

Também não concebo que pretendam que passe a ingerir a comida que eu consiga produzir (leram bem…). Não sei se acham que consigo meter uma vaca, galinhas e peixes na minha exígua varanda e se imaginam que seriam felizes a ver passar o trânsito. Também desconheço como, nesse caso, cumpriria as regras do abate de animais vigentes, sendo que, ademais, o clima na Av.ª de Roma me parece um pouco agreste para cultivar arroz e batatas, quiçá num canteiro qualquer, já que, de outra forma, os ditos bichos que passam a pernoitar na varanda entenderiam aquilo como pasto.

Estas ideias, a par de outras, todas absurdas, são acima de tudo de um extremismo inegável e símbolo de uma recusa em aceitar outros hábitos que não os dos que agora, sob uma imagem fofinha de quererem o bem do meio ambiente, pretendem chegar ao poder.

Sempre fui contra extremismos e tiques ditatoriais, principalmente quando disfarçados de medidas muito democráticas. Não abro aqui uma excepção porque, num mundo de crescentes proibições, grito “não”. Não me tirem a comida. Não me pretendam tornar uma agricultora à força (achando eu que houve até um programa televisivo com tais pretensões sem que se lhe conheça grande sucesso…).

Deixem-me escolher o método que repute como mais adequado para eu lidar com o período. Não me retirem o medicamento para as minhas dores até porque tratarei de ser cremada. Dito de outra forma, preocupem-se com o meio ambiente e com os animais mas não se esqueçam das pessoas.

A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.