Apesar da crescente importância da IA no tecido corporativo, um estudo recente mostra que a sua adoção no recrutamento ainda é limitada: apenas 12% das empresas utilizam a inteligência artificial no processo de atração e seleção de talentos. As áreas das finanças e das tecnologias lideram esta integração.
O estudo demonstra, também, que quanto maior for a empresa, maior é o nível de integração da IA. Isto não é de estranhar. Uma grande empresa que receba centenas de currículos beneficia, por exemplo, com a triagem automática de currículos. Nestes casos, a inteligência artificial no recrutamento de talento é altamente vantajosa.
Contudo, será que devemos deixar esta tarefa tão decisiva à responsabilidade de uma máquina? Ainda que a IA possa oferecer um incremento da eficiência, da rapidez ou da imparcialidade, os receios sobre os riscos éticos, nomeadamente sobre o viés algorítmico no recrutamento, evidenciam a complexidade desta questão.
Antes de mais, importa reconhecer as vantagens desta tecnologia enquanto aliada dos profissionais de recursos humanos. Entre os benefícios relativos à utilização da inteligência artificial no recrutamento, podemos, por exemplo, destacar:
As ferramentas de IA conseguem, a título ilustrativo, filtrar rapidamente currículos com base nas competências desejadas. Além disso, por meio da utilização de chatbots no recrutamento, os candidatos podem obter respostas instantâneas sobre o seu processo.
Estes benefícios resultam, portanto, da automatização de tarefas morosas. Adicionalmente, os defensores da utilização de inteligência artificial no recrutamento argumentam que esta tecnologia permite agilizar a triagem de currículos e tornar a escolha dos candidatos certos mais precisa.
A Amazon é, segundo a revista Forbes, uma das empresas que já está a incorporar a IA na seleção de candidatos para encontrar os que têm um maior potencial de sucesso.
Ainda que a IA ofereça um conjunto amplo de vantagens, a sua utilização nesta área não está, isenta de riscos. Ao substituir métodos tradicionais, a IA pode, certamente, perpetuar preconceitos existentes.
Embora alguns especialistas defendam que estas ferramentas podem ajudar a eliminar o viés humano no processo de recrutamento, estudos recentes mostram o oposto. Uma investigação da Bloomberg revela, aliás, que a tecnologia da OpenAI demonstrou um viés racial e de género na seleção de candidatos.
Por exemplo, softwares de IA associaram mulheres a funções tradicionalmente ligadas aos recursos humanos. Infelizmente, este não é um caso isolado. Um artigo da revista Nature elucida o porquê: “As decisões tomadas pela IA são moldadas pelos dados iniciais que ela recebe. Se os dados subjacentes forem injustos, os algoritmos resultantes podem perpetuar vieses, ou discriminação, criando o potencial para desigualdade generalizada”.
Neste quadro, revela-se evidente a necessidade de garantir a diversidade de dados no treino destes poderosos softwares. Além disso, é importante que os responsáveis de RH tenham acesso a formação orientada para a gestão ética destas ferramentas no delicado processo de seleção de talentos.
Para isso, importa estabelecer políticas e diretrizes claras neste campo, tanto para o desenvolvimento como para a utilização da inteligência artificial no recrutamento.
De facto, esta tecnologia revela o potencial de revolucionar este processo, podendo torná-lo mais eficiente, célere e justo. Mas é neste último ponto que ainda há muito trabalho a fazer. Este é, pois, um motivo suficientemente importante para evidenciar a relevância que o fator humano tem — e continuará a ter — no âmbito do recrutamento.
Este artigo é da autoria da Gi Group Holding.
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