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O impacto da inteligência artificial no recrutamento: benefícios e riscos éticos

No atual contexto laboral, a inteligência artificial (IA) gera reações mistas, que oscilam entre o entusiasmo e a preocupação. Vemos isto, sobretudo, nos contextos em que a utilização da inteligência artificial no recrutamento de pessoas apresenta o potencial de transformar processos e procedimentos, mas também onde levanta questões éticas importantes.
Rui Rocheta – Chief Regional Officer Southwestern Europe & Latam da Gi Group Holding
28 Outubro 2024, 07h55

Apesar da crescente importância da IA no tecido corporativo, um estudo recente mostra que a sua adoção no recrutamento ainda é limitada: apenas 12% das empresas utilizam a inteligência artificial no processo de atração e seleção de talentos. As áreas das finanças e das tecnologias lideram esta integração.

O estudo demonstra, também, que quanto maior for a empresa, maior é o nível de integração da IA. Isto não é de estranhar. Uma grande empresa que receba centenas de currículos beneficia, por exemplo, com a triagem automática de currículos. Nestes casos, a inteligência artificial no recrutamento de talento é altamente vantajosa.

Contudo, será que devemos deixar esta tarefa tão decisiva à responsabilidade de uma máquina? Ainda que a IA possa oferecer um incremento da eficiência, da rapidez ou da imparcialidade, os receios sobre os riscos éticos, nomeadamente sobre o viés algorítmico no recrutamento, evidenciam a complexidade desta questão.

Quais são, então, os benefícios da inteligência artificial no recrutamento?

Antes de mais, importa reconhecer as vantagens desta tecnologia enquanto aliada dos profissionais de recursos humanos. Entre os benefícios relativos à utilização da inteligência artificial no recrutamento, podemos, por exemplo, destacar:

  • Maior eficiência e rapidez nos processos;
  • Redução de custos;
  • Acesso a um maior número de candidatos;
  • Apoio no agendamento de entrevistas;
  • Criação de anúncios de emprego mais apelativos.

As ferramentas de IA conseguem, a título ilustrativo, filtrar rapidamente currículos com base nas competências desejadas. Além disso, por meio da utilização de chatbots no recrutamento, os candidatos podem obter respostas instantâneas sobre o seu processo.

Estes benefícios resultam, portanto, da automatização de tarefas morosas. Adicionalmente, os defensores da utilização de inteligência artificial no recrutamento argumentam que esta tecnologia permite agilizar a triagem de currículos e tornar a escolha dos candidatos certos mais precisa.

A Amazon é, segundo a revista Forbes, uma das empresas que já está a incorporar a IA na seleção de candidatos para encontrar os que têm um maior potencial de sucesso.

Que desafios éticos traz a inteligência artificial no recrutamento?

Ainda que a IA ofereça um conjunto amplo de vantagens, a sua utilização nesta área não está, isenta de riscos. Ao substituir métodos tradicionais, a IA pode, certamente, perpetuar preconceitos existentes.

Embora alguns especialistas defendam que estas ferramentas podem ajudar a eliminar o viés humano no processo de recrutamento, estudos recentes mostram o oposto. Uma investigação da Bloomberg revela, aliás, que a tecnologia da OpenAI demonstrou um viés racial e de género na seleção de candidatos.

Por exemplo, softwares de IA associaram mulheres a funções tradicionalmente ligadas aos recursos humanos. Infelizmente, este não é um caso isolado. Um artigo da revista Nature elucida o porquê: “As decisões tomadas pela IA são moldadas pelos dados iniciais que ela recebe. Se os dados subjacentes forem injustos, os algoritmos resultantes podem perpetuar vieses, ou discriminação, criando o potencial para desigualdade generalizada”.

Como promover a IA responsável no recrutamento?

Neste quadro, revela-se evidente a necessidade de garantir a diversidade de dados no treino destes poderosos softwares. Além disso, é importante que os responsáveis de RH tenham acesso a formação orientada para a gestão ética destas ferramentas no delicado processo de seleção de talentos.

Para isso, importa estabelecer políticas e diretrizes claras neste campo, tanto para o desenvolvimento como para a utilização da inteligência artificial no recrutamento.

De facto, esta tecnologia revela o potencial de revolucionar este processo, podendo torná-lo mais eficiente, célere e justo. Mas é neste último ponto que ainda há muito trabalho a fazer. Este é, pois, um motivo suficientemente importante para evidenciar a relevância que o fator humano tem — e continuará a ter — no âmbito do recrutamento.

 

 

Este artigo é da autoria da Gi Group Holding.

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